O óculo na história do Pantheon
Além de ter mantido sua importância simbólica desde o período considerado pagão até os dias de hoje, a abertura circular do Pantheon teria sido, segundo a tradição oral, de fundamental importância nessa transição. Conta-se que quando a Igreja Católica recebeu a posse do prédio, o lugar era tido pelos católicos como ‘a casa do diabo’ e nenhum cristão ousava sequer chegar perto. Depois de inúmeras tentativas sem sucesso de convencê-los de que não havia diabo nenhum no Pantheon, o papa da época teria usado um recurso cênico envolvendo o óculo para acabar com a crença.
Segundo as narrativas orais, o papa convidou os fiéis a visitarem o templo, onde assistiriam ao exorcismo do suposto morador demoníaco. Diante de todos os presentes, ele invocou as forças divinas para expulsarem o demónio daquela casa: Diavolo vattene (diabo vá embora). Nesse instante, um funcionário da igreja escondido num espaço subterrâneo usado para escoamento da água da chuva que entra pelo óculo*, queimou um monte de folhas, deixando a fumaça subir para o patamar do templo e escapar pela abertura circular. A ideia era convencer os fiéis de que o diabo havia se desintegrado e deixado o local. O truque deu certo
e o Pantheon passou a ser frequentado pelos cristãos, transformando-se, depois, na Basílica de Santa Maria dei Martire (Santa Maria dos Mártires ou Santa Maria e Mártires).
O relato parece bem convincente, mas traz imprecisões históricas pois Gregório Magno, que teria feito a encenação de exorcismo, foi papa entre 590 e 604 e o Pantheon só foi doado à Igreja no ano 609, quando o papa era Bonifácio IV.
Faz parte do simbolismo do óculo a variação de ângulos que a luz assume ao penetrar, através dele, no interior do templo, que ocorre a cada dia de acordo com o curso do sol. A ideia de comunicação direta entre os fiéis e os deuses ocorreria no momento em que a luz desce verticalmente, sem inclinação, como se ligasse o zênite ao centro do templo.
Uma esfera perfeita
Não é apenas o óculo que faz do Pantheon uma obra singular. Sua cúpula, com mais de 43,44 metros de diâmetro, é maior que a da Basílica de São Pedro e foi construída sem qualquer sustentação. Para aliviar o peso, que passa de 4.500 toneladas, a cúpula foi moldada em blocos que se assemelham a caixotes, com cavidades no centro. Houve também um escalonamento dos materiais, que são mais pesados embaixo e vão se tornando mais leves nas partes altas, onde se chegou a usar até pedra-pomes, conhecida por sua leveza e porosidade.
Outra curiosidade é a coincidência de medidas entre o diâmetro da cúpula e a altura do templo, de forma que dentro do edifício caberia uma esfera perfeita. Para algumas religiões ou escolas místicas, especialmente as mais antigas, a esfera é um símbolo celeste, enquanto o
quadrado simboliza a terra e o octógono marca a transição entre um e outro. No Pantheon, como em outras construções religiosas, a cúpula esférica é sustentada por uma estrutura intermediária octogonal.
Um templo de todos os deuses?
Existe a crença de que o Pantheon foi, originalmente, um templo de todos os deuses. Os defensores dessa tese apoiam-se no significado do nome, formado pela combinação do prefixo Pan, que significa todos, com o substantivo Theon, que significa deuses. Mas há controvérsias.
Em sua obra History of Roma, escrita no mesmo século, o senador romano Cassius Dio pondera que o nome Pantheon pode ter vindo do fato do prédio ter sido decorado com estátuas de muitos deuses, inclusive Marte e Vênus, ou por sua cúpula abobadada torná-lo semelhante ao céu.
Tito Lívio, em Ab urbe condita ("Desde a fundação da cidade"), também questiona a ideia de um templo de todos os deuses alegando que além dos sacrifícios e ritos serem específicos a cada um deles, as divindades precisavam ter templos separados para que ficasse claro qual delas tinha sido ofendida quando acontecesse algo como a queda de um raio.
Ao derrubarmos a suposição de que o Pantheon foi um templo dedicado a todos os deuses, ficamos sem uma tese para substituí-la, pelo menos no que diz respeito à sua devoção. Resta-nos, então, a lenda segundo a qual o Pantheon foi construído no lugar onde Rômulo, fundador de Roma, foi colhido por uma águia e levado ao encontro dos deuses, onde se tornou o deus romano Quirino.
Um templo de arte
Depois que foi doado à igreja, na Idade Média, o Pantheon recebeu obras de arte entre as quais se destaca a pintura "Anunciação" de Melozzo da Forlì. O prédio passou a ser usado, ainda, como sede da Academia Pontifícia de Belas Artes e Literatura Virtuosa de Roma e para abrigar túmulos de reis e deartistas. O mais famoso é o do pintor Rafael, mas também encontram-se lá os restos mortais de outros artistas como o pintor Annibale Carracci, o compositor Arcangelo Corelli e o arquiteto Baldassare Peruzzi .
O primeiro Pantheon foi encomendado por Marco Vipsânio Agripa, em 27 antes de Cristo, mas a versão atual foi erguida por Adriano, entre os anos 126 e 128 da nossa era. Sua doação à Igreja, em 609, pode ter sido a razão da boa manutenção que o coloca na condição da obra romana mais bem preservada.
*O prédio possui realmente um canal de drenagem para água da chuva. Para permitir que a água escoe, o piso da sala tem um declive de 30 centímetros.
Pantheon - Trevi- Roma - Itália - Europa
Texto: Sylvia Leite
Fotos:
(1) José Somovilla do Pixabay (2) Site Pantheon Divulgsção (3) Site Pantheon Divulgação (4) Site Pantheon Divulgação (5) Domínio público (6) Site Pantheon Divulgação (7) Maros M r a z (Maros) (8) Szilas Wikimedia (9) Imagem R. Lanciani Domínio público Wikimedia
Fotos:
(1) José Somovilla do Pixabay
(2) Site Pantheon Divulgsção
(3) Site Pantheon Divulgação
(4) Site Pantheon Divulgação
(5) Domínio público
(6) Site Pantheon Divulgação
(7) Maros M r a z (Maros)
(8) Szilas Wikimedia
(9) Imagem R. Lanciani Domínio público Wikimedia
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Excelente pesquisa. E em um dia especial.
ResponderExcluirValeu, Sidney. Beijo.
ExcluirExcelente pesquisa. E em um dia especial.
ResponderExcluirExcelente pesquisa. E em um dia especial.
ResponderExcluirAprendendo sempre com seus textos diversificados, objetivos, concisos e agradáveis, uma boa surpresa a cada semana. Obrigada, Sylvia.
ResponderExcluirEu que agradeço por tantos elogios. E também por ser leitora assídua. Legal saber disso.
ExcluirPra mim o mais marcante do Pantheon é mesmo a abertura da cúpula a céu aberto. Vi um vídeo sobre a festa de Pentecostes e a chuva de pétalas vermelhas é mesmo linda, imagino qual deve ser a sensação de quem acompanha ao vivo.
ResponderExcluirPois é! Um lugar que mexe com as pessoas. Obrigadapelo comentário.
ExcluirEu amei conhecer o Pantheon, é surreal tanto por fora quanto por dentro uma construção feita dessa forma. A arquitetura é uma coisa formidável. No dia que eu visitei a fila estava bem curtinha e deu pra ficar bastante tempo lá dentro. Abraços
ResponderExcluirVocê deu sorte. Eu também não enfrentei fila. Isso ajuda a aproveitar melhor o lugar.
Excluirmaravilha, Sylvinha. Com a história, o prédio fica muito mais interessante!
ResponderExcluirA gente saboreia mais, né? Também acho.
ExcluirO Pantheon é uma obra impressionante. Infelizmente não conheci seu interior. Adorei ler essas informações sobre esse templo aberto para o céu.
ResponderExcluirQuando voltar lá, já terá outra visão.
ExcluirUau, adoro esse local. Adorei o post "Pantheon: um templo aberto para o céu". Confesso que é meu lugar preferido em Roma, já fui aí 2 vezes e voltaria outras. Parabens e obrigada por compartilhar
ResponderExcluirEu que agradeço. Pela leitura e pelo comentário.
ExcluirAh Sylvia que delícia ler esse post. Eu amo Roma e o Pantheon é mesmo um templo a céu aberto e lindíssimo. Me emocionei quando entrei ai a primeira vez. Adorei ler seu post.
ResponderExcluirQue bom que gostou! Eu também me emocionei quando entrei pela primeira vez.
ExcluirO templo Pantheon é fantástico! Lindo, imponente! Eu adorei saber as curiosidades e aprender um pouco mais sobre ele. Muito obrigada pelo post!
ResponderExcluirEu que agradeço, Van. Pelaleitura e pelo comentário. Volte sempre.
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