Até onde se sabe, a Ponte Vecchio original foi erguida em
madeira, na Roma Antiga, provavelmente no século 1 Antes de Cristo. Depois de inundações,
e consequentes reconstruções, sobre as quais pouco se sabe, a ponte chegou à sua estrutura atual em 1345. Foi construída em
pedra, com três arcos de sustentação, a partir de um projeto arquitetônico de autoria
indefinida. A dúvida gira em torno de dois arquitetos: Neri di Fioravanti, a
quem se atribui os projetos de algumas igrejas italianas, e Taddeo Gaddi, mais
conhecido como pintor. Há quem diga que os dois trabalharam juntos e coube a Gaddi
o papel de mestre construtor.
Os charmosos ‘puxadinhos’
Quase cem anos depois (1442) de
construída em sua versão definitiva, a Ponte Vecchio transformou-se no mercado de carnes e de peixes da cidade e isso fez nascer seu segundo fator de singularidade: os ‘puxadinhos’ sobre o Rio Arno.A mudança dos açougues para a ponte foi determinada pelas autoridades sanitárias a fim de livrar as zonas residenciais do mau cheiro e do rastro deixado pelos açougueiros ao transportar ossos, espinhas e restos de carnes até o rio Arno, onde eram descartados. E foram os açougueiros e
peixeiros que construíram, de forma desordenada, e ao modo dos famosos puxadinhos brasileiros, as estruturas que se projetam sobre o rio e dão um interessante volume às paredes da ponte.Há quem diga que os açougueiros precisaram construir essas salas, para abrigar os
ambientes de serviço, deixando à mostra no corredor da ponte apenas os produtos
já prontos para venda. Outra versão afirma que os ‘puxadinhos’ começaram a ser
feitos porque as lojas, que inicialmente pertenciam ao Município e eram
alugadas, foram vendidas a seus ocupantes e eles se sentiram no direito de ampliar
seus espaços, construindo inclusive quartos, terraços e até mesmo casas completas.
O Corredor Vasari
No século seguinte (1565), foi adicionado à ponte mais um elemento incomum: uma passagem elevada por cima das lojas, que faz parte de uma estrutura bem maior denominada Corredor Vasari ou Corridoio Vasariano, como se diz em Italiano. A passagem recebeu esse nome por ter sido projetada por Giorgio Vasari, mas seu verdadeiro dono era o governante da época, o Grão Duque Cosimo I de 'Medici. O corredor liga o Palácio Piitti (ou Palazzo Pitti), residência da família Médici na época, ao Palácio Vecchio (Palazzo Vecchio) e à atual Galeria Uffizi, onde funcionavam, respectivamente, a sede do poder local e seus escritórios administrativos.
O propósito de Cosimo era poder se locomover entre os três pontos de forma privada, e, segundo se conta em Florença, ele não visava apenas obter conforto e privacidade, mas também proteção pois se sentia inseguro por não não contar com o apoio de uma parte significativa da população, entre outras razões, por ter substituído a República de Florença.
A obra foi concluída no tempo record de menos de seis meses. A razão da pressa teria sido, principalmente, o casamento de Francesco, filho de Cosino, com Johanna da Áustria. Cosimo queria impressionar os
austríacos com seu corredor elevado, além de garantir a segurança de todos ao transitar pelo centro da cidade. A obra não só impressounou os convidados reais, como seguiu impressionando a todos nos séculos seguintes.Outros fatos curiosos
Curiosidades não faltam na história da Ponte Vecchio. Uma das mais
conhecidas é o surgimento do termo ‘bancarrota’. Conta-se que na época dos
açougues e peixarias, quando um comerciante não conseguia pagar suas dívidas,
os guardas quebravam suas instalações e dizia-se que ele teve seu ‘banco roto’,
o que em Português acabou ficando banca rota ou bancarrota.
Mais uma história surpreendente: é possível que a
beleza e singularidade da Ponte Vecchio a tenha livrado da destruição durante a Segunda Guerra Mundial, quando as tropas nazistas bombardearam todas as outras pontes da cidade. Acredita-se que a ordem de poupá-la tenha vindo do próprio Adolph Hitler, que teria visitado o Corredor Vasari algum tempo antes, a convite do dirigente fascista Benito Mussolini.Outra curiosidade é o hábito de pendurar cadeados na ponte, especialmente nas grades que cercam a estátua de Benvenuto Cellini – um artista que foi considerado o ourives mais importante de Florença. O hábito é inspirado na crença do amor eterno. Acredita-se que, ao fixar os cadeados, os casais adquirem a garantia de que permanecerão unidos para sempre. Ao longo dos séculos, essa tradição trouxe problemas à administração municipal, que precisava fazer a retirada permanente dos cadeados. A fim de minimizar o problema, foi criada uma multa pesada para quem for pego fixando cadeados em qualquer parte da Ponte Vecchio.
A estátua de Benvenuto Cellini foi feita em bronze pelo escultor florentino Raffaello Romanelli, que se tornou conhecido no mundo inteiro pela autoria de bustos de pessoas famosas. O monumento está localizado na parte central da ponte, no único trecho em que não há lojas e os visitantes podem admirar o Rio Arno.
Ponte Vecchio - Rio Arno - Florença - Toscana - Itália - Europa
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