

Olhando a mesquita de fora, com suas formas retas e paredes austeras, é difícil imaginar a sofisticação que a construção abriga e a sensação de paz e serenidade que reina por lá, tanto nas áreas internas como nas externas.
Deslocada do coração da cidade, onde estão concentradas as construções mais famosas de Istambul, a Pequena Sofia não é muito procurada por turistas até porque não é fácil de ser encontrada. Talvez por isso, ou quem sabe por razões imponderáveis, mantém um silêncio acolhedor que parece subir pelos pilares e ocupar os arcos que sustentam sua cúpula octogonal.
Pequena Santa Sofia: de igreja a mesquita

A atual mesquita nasceu como igreja cristã ortodoxa, na época em que Istambul ainda se chamava Constantinopla. Por ter um projeto semelhante à da famosa Santa Sofia, e ser anterior a ela em alguns anos, acredita-se que tenha sido erguida como uma espécie de ensaio para a construção de sua semelhante maior e mais famosa. Mas, ao que parece, isso nunca foi confirmado. Acredita-se, ainda, que os arquitetos da pequena foram os mesmos da grande - Isidoro de Miletus e Anthemius de Tralles. Mas a única certeza que se tem é de que as duas obras foram ordenadas pelo imperador bizantino Justiniano, que governou entre 527 e 565.
A igreja maior, construída para ser a catedral de Constantinopla, foi chamada de Sofia não em homenagem à santa homônima, como pode parecer à primeira vista, mas para exaltar a ciência divina porque Sofia é uma transliteração para o latim da palavra grega sabedoria. Já a menor, passou a chamar-se assim somente quando tornou-se mesquita, pois seu nome original era Igreja de São Sérgio e São Baco.
Essa denominação, que se manteve por mais de nove séculos, homenageia dois oficiais de alta patente do exército romano, santificados pela Igreja. Eles teriam sido torturados e mortos pelos outros soldados quando foi descoberta sua conversão ao Cristianismo*.
Além da enorme popularidade dos dois santos na época da construção da igreja, uma espécie de lenda teria justificado a escolha de Justiniano. Conta-se que, anos antes, ele tinha sido acusado de trair seu tio, o então imperador Justin I, e quase foi morto por isso. Às vésperas de sua execução, no entanto, os dois santos teriam aparecido ao imperador e revelado a inocência do sobrinho. Por causa dessa ajuda, Justiniano teria não apenas sobrevivido, mas herdado o trono tempos depois.**



A mescla das duas culturas compõe um conjunto visualmente harmônico e integrado, onde nem sempre é fácil identificar o que pertence a uma ou a outra. O que surpreende é encontrar, dentro da mesquita, uma inscrição em grego antigo com louvores ao imperador Justiniano, a sua esposa Theodora, e a São Sérgio - um dos santos a quem a igreja foi devotada.
Paz na antiga madrassa
A calma que experimentamos dentro e fora da mesquita, chega a um espaço lateral, onde está o prédio da madrassa.

A visita a esse cantinho especial pode durar de 15 minutos, com uma passada rápida pelas varandas, a várias horas, para quem desejar conhecer o lugar em seus detalhes e nuances. Tudo vai depender da disposição de cada um de se entregar às sensações oferecidas pelo local.
O que fazer é que não falta. Seja pela originalidade e variedade dos artigos à venda nas pequenas lojas, incluindo livros de todo tipo, seja pelo espetáculo oferecido por um ou outro artesão que trabalha de portas abertas, permitindo algum contato do visitante com o ambiente, o ritmo de produção, a técnica e os instrumentos.
E quem mergulha nessa atmosfera de paz, também pode ter calma para abrir um livro e se perder em suas páginas ou, simplesmente, usufruir do lugar em estado de contemplação.
* Segundo o historiador John Boswell, professor na Universidade de Yale, a relação entre os santos Sérgio e Baco pode ter uma dimensão romântica. Essa hipótese levou à veneração dos dois santos pela comunidade gay cristã e ao uso de sua imagem em eventos LGBT.
** Outra versão conta que Justiniano e seu tio Justin tinham sido acusados de trair o imperador Anastácio I e os dois santos os teriam ajudado a obter o perdão do imperador.
Pequena Santa Sofia - Istambul - Turquia
Texto: Sylvia Leite
Fotos:
(1 e 3) Bollweevil - CC BY-SA 3.0
(4, 8 e 9) Sylvia Leite
Referências:
Historic Areas of Istanbul - Site Unesco
A origem do culto da SS. Sérgio e Baco, de David Woods
World Heritage in Turkey
Fotos:
(1 e 3) Bollweevil - CC BY-SA 3.0
(4, 8 e 9) Sylvia Leite
Referências:
Historic Areas of Istanbul - Site Unesco
A origem do culto da SS. Sérgio e Baco, de David Woods
World Heritage in Turkey
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Fantástico Silvinha.
ResponderExcluirValeu, Sidney. bj
ExcluirBárbaro Sylvia. Obrigada por nos permitir revisitar na memória este lindo lugar.
ResponderExcluirEu que agradeço, mas queria tanto saber quem escreve cada mensagem! rsrs Da próxima vez deixe seu nome, ok?
ExcluirO dia que for lá vou procurar por ela
ResponderExcluirFaça isso. Não vai se arrepender.
ExcluirAcompanho suas matérias através do jornal digital clicks,continue postando sempre.
ResponderExcluirQue bom, Eduardo. Seja bem-vindo. Toda quinta tem matéria nova no blog. Caso queira, pode se inscrever aqui no blog para receber por e-mail ou nos passar seu número de celular para receber por whatsapp. Nosso e-mail é blog.lugaresdememoria@gmail.com
ExcluirClickus
ResponderExcluirValeu!
ExcluirFiquei encantada com sua descrição desse espaço que convida à contemplação e à paz.
ResponderExcluirBjs,
Val Cantanhede
Que bom, Val.É ótimo saber que acompanha o blog semanalmente. bjs
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