na Mussuca me criei,
com o Samba de Pareia,
na Mussuca eu morrerei.
Ô cadê o samba, oi ele aqui...
Cada vez que nasce um bebê na comunidade quilombola da Mussuca, o pessoal do Samba de Pareia tem a missão de homenagear a mãe e a criança, dançando e tomando meladinho*.

É assim desde o primeiro parto, quando o povoado ainda era um quilombo. Mas hoje o grupo também vai à rua em outras datas, especialmente na Semana Santa e no Dia da Consciência Negra, quando costuma haver apresentação de todos os grupos folclóricos locais.
O Samba de Pareia é dançado aos pares, que se alternam conforme a evolução da música. Antigamente era executada por casais, mas a troca de posições deixava os homens enciumados. Para evitar confusão, agora só as mulheres participam. Os homens ficam em volta para bater os instrumentos.
Tão antigo como o Samba de Pareia é a Dança de São Gonçalo, formada somente por homens quase todos com roupas de mulher. Os rapazes se vestem assim em alusão às prostitutas. Segundo a lenda, o santo marinheiro tirava as mulheres "da vida" por meio da música e da dança.
Ora e viva e
arreviva,
Viva São
Gonçalo viva
Atualmente, a Dança de São Gonçalo já se apresenta de forma profana, em datas comemorativas, mas sua função original é homenagear o santo e pagar promessas.
Ora e viva e
arreviva,
Viva São
Gonçalo viva
Atualmente, a Dança de São Gonçalo já se apresenta de forma profana, em datas comemorativas, mas sua função original é homenagear o santo e pagar promessas.
O trabalho completo leva oito dias: sete para ensaios e um para execução. O ritual dura o dia todo incluindo procissão, almoço e a dança propriamente dita. Normalmente, o público é formado apenas pelo o povo do lugar, mas se aparece algum forasteiro, como eu, é sempre bem recebido.

Décadas atrás, não havia ali habitante que não fosse negro. Hoje em dia já não é bem assim, mas das cerca de mil famílias da Comunidade Quilombola, poucos são mestiços e é bem difícil encontrar alguém de pele muito clara. Se encontrar, provavelmente veio de fora.
O nome Mussuca é uma alusão a um peixe preto, conhecido como Mussum, que os primeiros refugiados teriam encontrado ao cavarem um poço para abastecimento de água. A mudança para Mussuca poderia ser apenas uma corruptela, mas é atribuída pelos moradores a uma ex-escrava conhecida como Maria Banguela, mas ninguém sabe dizer o que teria motivado a alteração.

Depois da abolição, muitos voltaram a trabalhar nos canaviais, outros empregaram-se nas pedreiras ou nas fazendas de sal. As mulheres que não foram absorvidas pelo mercado local, aprenderam a ganhar a vida por conta própria, enfiando os pés no mangue para pescar camarão e siri, e com isso criaram uma atividade que tornou-se responsável por pelo menos parte do sustento das famílias.
A escravidão se foi, mas a luta continua. Pela preservação da cultura e contra o preconceito, pois até hoje há relatos de pessoas que não conseguem emprego porque "são do quilombo".
A escravidão se foi, mas a luta continua. Pela preservação da cultura e contra o preconceito, pois até hoje há relatos de pessoas que não conseguem emprego porque "são do quilombo".
*Meladinho é uma bebida preparada com mel de abelha, canela, arruda, cebola branca e cachaça.
** O Quilombo de Palmares será tema de matéria neste blog. Aguardem.
Mussuca/ Laranjeiras/ Vale do Cotinguiba/ Sergipe/ Brasil
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Eu não tinha ouvido falar desse quilombola. Gostei muito de conhecer essa história
ResponderExcluirÉ muito legal, mas é bom ir quando tem grupo folclórico atuando. De preferência quando nasce uma criança ou quando se paga promessa. Nos dias festivos também é legal, principalmente porque tem todos os grupos, mas aí já são apresentações, não são rituais.
ExcluirQue coisa linda, vale muito a pena ser lido e compartilhado. Estou adorando o blog!
ResponderExcluirObrigada, Leandro. Fico muito feliz com sua assiduidade.
ExcluirQue lindo esse lugar!!! Quero ir lá, ver e ouvir esse samba de perto!!! Obrigado por compartilhar!! Lindo texto! Lindas fotos
ResponderExcluirObrigada, Eucir. O lugar é lindo mesmo. Vou pedir ao mestre Neilton que me avise quando tiver um nascimento ou um pagamento de promessa. Aí te falo e você vê se consegue ir. É bom visitar a Mussuca nessas ocasiões, quando a dança é ritual. Nas festas é bonito, mas não tem a mesma força.
ExcluirExelente trabalho! Por diversas vezes tive a oportunidade de assistir as apresentações desse grupo da comunidade da Mussuca. Parabéns pela matéria!👏👏👏
ResponderExcluirObrigada, Waltinho. É uma maravilha, não é?
ExcluirDesconhecia essa história maravilhosa e esse local. Obg.e parabéns pelo trabalho de preservação e divulgação das nossas memórias.
ResponderExcluirObrigada, Lenízia. Bom saber que estou ajudando a divulgar uma tradição tão importante.
ExcluirMuito legal! Gostei de ter esse conhecimento.
ResponderExcluirNão assinou, mas imagino que seja Cleise que me mandou mensagem igualzinha pelo Zap. Obrigada, querida.
ExcluirParabéns pela bela matéria. A Mussuca é uma comunidade quilombola encantadora. Sua gastronomia com mariscos e peixes da região é fantástica. Além do frango caipira e o pirão. Todos os dias vc descobre algo novo na Mussuca. Visite, vale à pena. Fica a 22 km de Aracaju, é uma Comunidade localizada na Cidade Histórica de Laranjeiras/Se.
ResponderExcluirObrigada! Pode me dizer seu nome? Gosto de saber de quem é o comentário. Volte sempre! Toda quinta tem matéria nova. Abraço!
ExcluirParabéns! Belíssima iniciativa. Resgate histórico.
ResponderExcluirObrigada, Dilmar. Quinta-feira que vem tem mais. Não perca. Abraço!
ExcluirBelo registro, Sylvinha!!!! Parabéns!
ResponderExcluirValeu, Soninha. beijos
ExcluirÓtimo, Sylvinha! Vamos lá em janeiro!
ResponderExcluirBora!
ExcluirQuerida Sylvinha, quando fui à Laranjeiras comprei um cd da Mussuca e me emocionei quando escutei. Bjs.
ResponderExcluirAh, que legal! Da próxima vez que for a Aracaju visite a Mussuca. Beijos
ExcluirA dança do São Gonçalo é uma das manifestação folclórica das mais bonitas que conheço, bom reavivar a memória através do seu texto. Obrigado pelo belo resgate.
ResponderExcluirConcordo com você, Neilton. Ela e a Taieira são minhas preferidas, embora goste muito também dos parafusos.
ExcluirQue bacana!
ResponderExcluirÉ bacana mesmo, Maga.
ResponderExcluirGostei de saber. Não conhecia. Deve ser muito legal assistir e participar de um momento deles nas festas. Parabéns por colocar nossa terra aqui para ser conhecida.
ResponderExcluirObrigada, Maria Helena. É muito legal sim.
ExcluirE chegou nosso Sergipe. Parabéns.
ResponderExcluirJá é a segunda matéria. A primeira foi sobre o VÉIO.
ExcluirSempre clara sua escrita, e como dizia Fayga Ostrower,só a clareza comove! Pois é bela.
ResponderExcluirQue lindo, Hilda. Obrigada!!!
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