A intenção do santo, que na época era apenas um líder religioso, teria sido
didática. Seu desejo seria possibilitar aos devotos, especialmente os camponeses, a compreensão do significado do Natal. A inspiração para o gesto teria ocorrido durante sua viagem a Belém, na Palestina, onde visitou a Gruta da Natividade – local onde teria ocorrido o nascimento de Jesus Cristo.A maioria das fontes religiosas afirma que o presépio de São
Francisco tinha apenas um boi e um jumento vivos e, ao centro, a manjedoura – onde
os devotos podiam imaginar, ou perceber em experiência mística, a presença do Menino
Jesus. Mas há quem afirme que esse presépio tinha imagens, tanto do menino como
de seus pais – Maria e José – modelados em argila.
Seja qual for a verdade histórica, um detalhe parece
consensual: frei Francisco queria que as
pessoas percebessem a pobreza e a humildade do lugar de nascimento de Jesus e,
por isso, criou o ambiente mais simples possível. Além disso, apresentação do
presépio foi feita durante uma missa rezada sobre a manjedoura.
Isso teria ocorrido em 1223, apenas três anos antes de sua morte. A partir daquele momento, igrejas, catedrais e mosteiros passaram a montar presépios no Natal e logo foram seguidos por reis e nobres. No século 18, o hábito popularizou-se em toda a Europa e ganhou o mundo, consolidando-se como uma
tradição do período Natalino.Presépios vivos
O lugar escolhido para a montagem do primeiro presépio foi a comuna de Greccio, localizada na província de Rieti, na região do Lácio. São Francisco nasceu e viveu em Assis, na província de
Perugia que, por sua vez, pertence à região da Umbria. Embora sejam regiões vizinhas, sempre houve uma dúvida sobre os motivos dessa escolha e a resposta mais aceita até hoje é que o Frei Francisco pode ter sido a convidado a rezar a missa de Natal em Greccio e decidido colocar em prática a inspiração que teve na Palestina. Um dos motivos que sustenta essa hipótese é o fato de ter sido ajudado nos preparativos por um nobre local.
Como lugar de nascimento do presépio, a vila de Greccio abriga
hoje a mais famosa encenação viva da Natividade. As apresentações costumam começar no dia 24 de
dezembro e podem se estender, em dias salteados, até 6 de janeiro. Além da coincidência
geográfica, o Presépio Vivo de Greccio tem como diferencial o fato de incluir a
reconstituição dos fatos que levaram São Francisco a idealizar e realizar a cena
simbólica do nascimento de Cristo.
Mas se o de Greccio é o mais famoso, o de Matera é o maior da Itália. São cerca de 300 figurantes que se apresentam em variadas locações – em um trajeto que pode variar de 1 a 5 km – , na área histórica da cidade, os famosos Sassos, onde lojas, restaurantes e hotéis são escavados na pedra, ocupando locais de
antigas moradias*. Assim como em Greccio, o teatro vivo de Matera também tem apresentações em dezembro e início de janeiro.
De Verona ao Vaticano
Existem inúmeros outros presépios vivos, mas esse, evidentemente,
não é o único tipo de representação da Natividade. Na própria Itália, há iniciativas
de diferentes formatos. Uma das mais conhecidas é a coleção de presépios da
Arena de Verona, na – uma espécie de
mini coliseu que, nas últimas décadas, abriu seu subsolo para a exposição de presépios
vindos de várias partes da Itália. O que chama mais a atenção, além da
perfeição das peças, é o fato da cena do nascimento ser representada de acordo
com a paisagem e a cultura de cada local, por meio de cenas do cotidiano. Isso,
claro, do lado de dentro, porque do lado de fora nada sobressai mais que a Estrela
de Belém esculpida em ferro pelo arquiteto Rinaldo Olivieri, com seus 70 metros
de altura.
Famoso, também, é o Presépio do Vaticano. Na verdade, é melhor dizermos ‘os presépios do Vaticano’
porque, a cada ano, a Praça de São Pedro recebe um presépio diferente, em geral doado por artistas.
Entre Portugal e Brasil
Depois da Itália, Portugal talvez seja o país com maior
tradição de presépios ou, pelos menos, um dos países que abriga mais exemplares
mundialmente famosos. A começar pelo santuário de Fátima que, assim como o Vaticano,
recebe anualmente, no mês de dezembro, um
presépio temporário que costuma permanecer até janeiro. Mas isso não é tudo.
Desde 2017, o santuário abriga um presépio permanente esculpido em cedro pelo artista
Paulo Neves.
E assim como a Itália, Portugal também tem presépio vivo e o mais famoso deles é o de Priscos, em Braga, considerado o maior da Europa. Na gruta onde se encontram os personagens de Maria, José e o Menino Jesus, são realizados quatro espetáculos simultâneos. Os cenários retratam trabalhadores da época – como camponeses, ferreiros, sapateiros, tecelãos -, além de fazer referência às culturas romana, judaica, egípcia, grega, assíria e babilônica. O Brasil não fica de fora dessa tradição e talvez o presépio brasileiro mais conhecido seja o do
Pipiripau – que apresenta não apenas o nascimento, mas toda a vida de Jesus. São mais de três mil peças – feitas em materiais tão diversos como argila, papel machê ou conchas – , e animadas por um maquinário desenvolvido com material de sucata como barbantes, carretéis, polias que fazem o Menino Jesus mexer as pernas na manjedoura, e o Cristo adulto subir aos céu depois da ressurreição. Os acontecimentos da vida de Cristo são narrados em meio a cenas cotidianas de Minas Gerais.
O Presépio do Pipiripau começou a ser construído em 1906, pelo
futuro mecânico Raimundo Machado Azevedo, que na época tinha apenas 12 anos. O
presépio levou 82 anos para ficar pronto. Hoje é tombado pelo Instituto de
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e está aberto à visitação
pública*, no Museu de História Natural da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A diversidade de tamanhos e materiais
Algumas igrejas também costumam montar presépios, especialmente as franciscanas. Em Aracaju, a de São Judas Tadeu, mais conhecida como Igreja dos Capuchinhos, mantém há décadas um presépio dotado de algumas engrenagens que fazem as figuras se mexerem e de um sistema de iluminação que simula o anoitecer e o amanhecer. Em Fátima, Portugal, mais de 1300 presépios criados em igrejas franciscanas do mundo todo estão reunidos em Fátima, Portugal, no
A mensagem de humildade
A origem franciscana do presépio embora aceita por muitos, não é consensual porque alguns acreditam que, de alguma maneira, sempre houve presépios, levando-se em conta o desejo permanente dos cristãos de representar, ou pelo menos de aludir ao nascimento de Jesus. Nesse sentido, a Gruta da Natividade, que teria inspirado São Francisco a fazer o presépio em 1223, seria, na verdade, o primeiro e mais autêntico presépio, pois, como lugar de nascimento de Jesus, ela abrigaria não apenas o simbolismo, mas também a memória viva do acontecimento.Sendo ou não o autor do presépio, São Francisco foi, sem dúvida o desencadeador do hábito de representar o nascimento do Menino Jesus e talvez a pessoa que mais tenha zelado pela mensagem de humildade que está contida na cena do presépio.
* Este e outros presépios tiveram sua exposição ou encenações suspensas por causa da pandemia.
Aqui em casa sempre montamos présepio para o Natal! Trouxe até alguns diferentes para a minha mãe da Bolivia, do Chile e de mais algum lugar q não lembro !
ResponderExcluirAs mães sempre ganham presépios, não é mesmo? rsrs Aquele em miniatura que eu mostrei na matéria, eu comprei para minha mãe quando visitei os figureiros de Taubaté. Aliás, preciso escrever sobre eles aqui no blog.
ExcluirUma das minhas memórias afetivas mais lindas... a preparação do presépio no mes de dezembro. Minha mãe levava tão a sério que plantava arroz em pequenos potes para o presépio ficar mais real... tinha um laguinho de espelho e a posição das peças era sempre a mesma...ano após ano. José, Maria, os três reis magos, o camponês olhando a estrela com um carneirinho nas costas, carneiros pastando, uma vaca, um jumento. Todo revestido de Papel
ResponderExcluircrepom verde e cor de areia...ficava lindíssimo!
Imagino, Thati. Eu também tenho boas lembranças relacionadas a presépios. Acho que muita gente da nossa geração teve essa vivência.
ExcluirSilvia, amei o blog viajei com todos detalhes sobre os presépios, recordei muito o passado quando preparavamos nosso presépio que era muito simples mas era tradição .
ResponderExcluirMuito legal saber que a matéria acendeu boas memórias. Obrigada pelo comentário. Apesar de não ter assinado, seu que é seu, Gilca, porque o texto é o mesmo que você me enviou pelo whatsapp.
ExcluirArtigo perfeito.
ResponderExcluirObrigada, Regina.Toda quinta tem matéria nova no blog e todo dia tem link, lá no facebook, para uma matéria publicada anteriormente. E você pode também navegar no blog para descobrir o que já foi postado. As matérias são atemporais. Você pode ler a qualquer momento.
ExcluirSylvia ame seu post sobre o presépio. Aqui em casa montamos todos os anos.
ResponderExcluirAdorei saber mais sobre todos esses detalhes Mais uma vez arrasou.
Que bom que gostou, Hebe. Obrigada pela leitura e pelo comentário!
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