Quem caminha pela rambla de Monetvidéu pode até não saber,
mas está refazendo simbolicamente a história da vida na Terra, contada por meio
de marcos plantados ao longo das praias que margeiam o Rio da Prata. São 20 km
de trajetória e 26 placas de ferro. Cada uma delas representa uma efeméride, ou
momento crucial de desenvolvimento da vida, e está posicionada ao longo da orla
em escala com a história geológica, isto é: em distâncias que correspondem,
proporcionalmente, aos intervalos de tempo entre os acontecimentos ocorridos ao
longo de quatro bilhões de anos.
Em um cálculo grosseiro, e talvez um tanto impreciso,
pode-se dizer, apenas para dar uma ideia, que cada passo andado na rambla
corresponde a 100 mil anos de história da vida. Além dessa viagem no tempo, que
por si só já fascina, os caminhantes da rambla têm a possibilidade de acessar,
com seus celulares, as principais informações sobre cada efeméride, bastando,
para isso, que façam a leitura do código QR colocado em cada placa.
E isso não é tudo: junto à experiência temporal e ao acesso à informação científica, os observadores podem usufruir também de uma experiência estética, porque cada uma das 26 placas traz um desenho, gravado no metal, em alusão à efeméride que demarca.
O conteúdo ao longo da 'Tira del Tiempo'
A primeira placa nos informa sobre o "final do bombardeio tardio" - o acontecimento que teria aberto as portas para o surgimento da vida na terra. Durante esse bombardeio, iniciado quando a terra tinha cerca de 700 milhões de anos, teria havido um aumento repentino do número
de asteroides nas regiões mais centrais do sistema solar, e isso teria provocado fortes impactos nos planetas e satélites - as crateras da lua, por exemplo, são atribuídas à ação desses asteroides. Com o fim dos impactos, a terra teria adquirido a estabilidade necessária ao surgimento da vida.Na segunda placa, temos um desenho alusivo ao RNA - o famoso ácido ribonucleico que estudamos na escola. Essa efeméride marca a
Origem da Vida, ocorrida no momento em que, a partir de uma evolução química na atmosfera da terra, compostos simples teriam adquirido complexidade, propiciando o surgimento da primeira célula primitiva. O RNA, que já integraria essa célula mãe, teria lhe permitido copiar-se a si mesma transmitindo a informação genética , que é a carecterística distintiva da vida.Ao longo dos quatro bilhões de anos percorridos por essa linha do tempo, são documentados eventos como a formação da camada de
ozônio, o aparecimento da espinha dorsal, a conquista da terra firme pelos vertebrados, o nascimento das aves. Entre os momentos mais marcantes dessa jornada estão o ‘surgimento dos organismos pluricelulares’, quando células individuais passaram a reunir-se em colônias, dando a origem a seres mais complexos, e a ‘explosão câmbrica’, quando teria havido a evolução dos 35 grupos de animais que existem até hoje.A última efeméride corresponde ao desaparecimento dos
dinossauros - provocada pelo impacto de um asteroide que se chocou contra a
terra. E assim como o fim do bombardeio tardio teria possibilitado o surgimento
da vida em nosso planeta, o fim dos dinossauros teria deixado o terreno livre
para o surgimento os mamíferos, grupo ao qual, todos sabemos, pertence a
espécie humana.
De onde vem a 'Tira del tiempo'?
Por incrível que pareça, muitos Uruguaios, inclusive de
Montevidéu, nunca prestaram atenção à ‘Tira del Tiempo y de la Vida’ nem sabem
explicar a razão daquelas placas que alguns deles já se acostumaram a avistar
quando andam pela rambla. Talvez isso se deva ao fato de os idealizadores do
projeto não terem tido tempo de divulgá-lo. Na verdade, os marcos de ferro são
a ponta de um bonito iceberg que prometia enriquecer a estrutura de
equipamentos culturais de Montevidéu, mas foi interrompido logo no início: o
Museu del Tiempo. Os marcos - única parte do projeto a ser concretizada - seriam a interface do museu com a cidade e,
ao mesmo tempo, o chamariz para seu conteúdo interno.
A ideia do projeto era concentrar no Museu del Tiempo todas as disciplinas científicas, desde a mais simples à mais complexa, dentro de chaves como a medida do tempo e sua percepção, a evolução da paisagem e da vida, a povoação da América e sua megafauna, a harmonia entre o ser humano e a natureza. Nesta última estariam incluídos estudos sobre a Economia Azul, que propõe um desenvolvimento sustentável a partir da utilização racional dos recursos dos oceanos. O projeto do museu previa, ainda, outras três linhas do tempo: da evolução humana, da humanização da América e da História recente.
Obrigado Sylvia, Esse assunto é fascinante e creio que cada vez mais deva tomar a atenção cotidiana das pessoas. astronomia, Geologia, Ecologia, Cosmologia etc tendem a ser ciências cada vez mais familiares aos jovens pois o futuro aponta para a vida fora do do planeta. Eu já estive por essa rambla mas não vi esses marcos. O Uruguai mais uma vez sai na frente com essa proposta educativa num equipamento urbano.
ResponderExcluirPois é, Gilberto, pena que esteja parado. Mas quem sabe retomam? Obrigada pelo comentário. bj
ExcluirQue projeto magnífico!Tomara que haja continuidade e que a rambla se torne referência na América Latina.
ResponderExcluirBjs,
Val Cantanhede
Sim, tomara mesmo, mas está difícil. Já faz um tempo que pararam.
ExcluirExcelente, Silvinha.
ResponderExcluirComo sempre.
Parabéns!
Valeu, Fafá, beijo
ExcluirSylvinha, quanta informação interessante!
ResponderExcluirAdorei saber.
Grande beijo!
sonia pedrosa
Que bom, Soninha! É interessante mesmo. Obrigada pelo comentário. Bj
ExcluirSilvia adorei seu post sobre a história das Ramblas de Montevideu. Estive na cidade e confesso que realmente não reparei nesses marcos, mas amei seu post, muito interessante. Parabéns!
ResponderExcluirObrigada, Hebe. Eu também nunca tinha ouvido falar. Descobri por acaso, passeando na rambla e fiquei encantada com o projeto que, infelizmente, parou no meio. Tomara que um dia seja retomado.
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