

Jenner Augusto: Arte no Calçadão
É impossível, por exemplo, um morador de Aracaju não lembrar do painel de azulejos que decora a fachada do Edifício Walter Franco, localizado na esquina da tradicional praça Fausto Cardoso - que já abrigou o Palácio do Governo - com o calçadão da João Pessoa, a principal rua comercial do Centro da cidade.
O edifício foi construído em 1956 para abrigar repartições do governo e ficou conhecido como o Palácio das Secretarias. O painel aborda temas econômicos, com elementos representativos da pesca e da produção agrícola, incluindo-se aí o caju, que é um dos símbolos da cidade. A pintura foi feita sobre cerâmica do artista alemão Udo Knoff, que também assina o trabalho.

Do Hotel Pálace ao Teatro Atheneu
Difícil também esquecer as imagens que ocupam uma parede inteira o hall do Teatro Atheneu - tradicional casa de espetáculos que concentra grande parte das apresentações musicais, de dança e de artes cênicas, por ser até hoje um dos poucos da cidade.

Os painéis do Cacique Chá

de entrada. São índios sob o comando do cacique Serigy - personagem histórico que lutou, durante décadas, contra a ocupação portuquesa na região.
Soma-se a isso a importância histórica do espaço. O Cacique Chá foi criado em 1950 e, ao longo dos anos, cumpriu as funções de restaurante e casa noturna, onde eram realizados bailes e shows. Na década de 1980, o local virou ponto de encontro dos intelectuais, que se reuniam no fim da tarde para beber e conversar.
Depois de anos fechado, e em estado de abandono, o local foi restaurado e reaberto em 2014, como restaurante-escola do Senac. Na área interna, foi instalado o Memorial Jenner Augusto, com fotos, documentos e recortes de jornais sobre o pintor*.

Mais distante ainda, é o painel da Universidade Federal de Sergipe (UFS), localizado no campus de São Cristóvão, a cerca de 20 km de Aracaju. Pintado em 1980, o painel faz uma espécie de 'colagem' de temas que representam o grande leque de saberes reunido em uma universidade: esportes, medicina, folclore, entre outros.

O artista e sua obra
Grande parte da carreira de Jenner Augusto desenvolveu-se em Salvador, ao lado de artistas como Mário Cravo Júnior, de quem foi assistente, Lygia Sampaio e Rubem Valentim. Com esses últimos, participou da polêmica mostra Novos Artistas Baianos, realizada no Instituto Histórico e Geográfico da Bahia. Conviveu também com Caribé, Poty e foi grande amigo de Jorge Amado, que acabou influenciando sua obra.

Jenner foi também ilustrador de um livro de Jorge Amado: o romance "Tenda dos Milagres". A experiência nessa área vinha de longe. Seus primeiros trabalhos no município sergipano de Lagarto, onde nasceu e viveu seus primeiros anos, foi ilustrando cartazes para o cinema local.
O encontro com o modernismo
O começo, no interior de Sergipe, foi dentro dos padrões convencionais, mas segundo ele próprio contou em entrevista ao escritor Guido Guerra, era seu desejo "romper com os cânones da época, o ranço acadêmico que havia na pintura de Sergipe" e o caminho para isso se abriu no contato com os modernistas, tanto da Bahia como do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Primeiro veio a temática: "parti de coisas populares, das festas, dos costumes de Sergipe até que comecei a fazer uma abordagem sobre temas históricos", disse na mesma entrevista. Mas houve também uma mudança de traços. Nos painéis do Cacique Chá, feitos na década de 1950, já era visível a influência de Portinari, que, assim como Pancetti, não só conheceu e admirou seu trabalho como o indicou para colecionadores.
Alguns painéis do artista foram restaurados, tanto em Aracaju como em Salvador, entre eles "A evolução do homem", do Centro Educacional Carneiro Ribeiro, e "A Ferrovia", feito sob encomenda para a Estação Ferroviária de Feira de Santana. A obra, que estava sumida desde a década de 1970, foi encontrada em um galpão da Rede Ferroviária Federal, em Salvador, pelo diretor da Casacor Bahia, Carlos Amorim.
Jenner não viveu para assistir todas essas coisas. Morreu em 2003, aos 78 anos, e, mesmo depois de tudo, muita gente ainda não o conhece, nem sabe que, de vez em quando, passa diante de uma obra sua.
* O prédio está passando por reformas e o acervo do memorial está temporariamente exposto no Museu Olímpio Campos, na Praça Fausto Cardoso, a cerca de cem metros do Cacique Chá.
Painéis de Jenner Augusto - Aracaju e São Cristóvão - Sergipe - Brasil - América do Sul
Texto: Sylvia Leite
Pauta: inspirada em matéria de Silvio Oliveira, do blog "Tô no Mundo". (Blog , Facebook)
Participação especial: Ruth Oliveira
Referências:
Enciclopédia Itaú Cultural
Livros:
Jenner (com reproduções da obra desde os primeiros trabalhos), Imprensa Oficial da Bahia.
Jenner: A Arte Moderna da Bahia, de Roberto Pontual, Editora Civilização Brasileira.
Jenner Augusto: Cores de uma Vida, de Mário Britto e Zeca Fernandes.
Os Alagados de Jenner, (texto de Adonias Filho), Ranulpho Editora de Arte.
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Igreja da Pampulha
Apasionante!!! Muchas gracias!
ResponderExcluirEu que agradeço. Pela leitura e pelo comentário.
ExcluirFantástico! 👏👏👏👏👏👏👏👏
ResponderExcluirObrigada, Maria Consuelo!
ExcluirGostei muito da reportagem Silvia! Parabéns o blog está espetacular!
ResponderExcluirQue bom!! Volte sempre.
ExcluirSempre passa em frente ao painel do calçadão da João Pessoa com a praça e não sabia do valor de tamanha obra. Agora olharem com mais detalhes e atenção.
ResponderExcluirOlhe sim. Não vai se arrepender! E da próxima vez que comentar, diga seu nome. É tão bom saber quem é o autor ou a autora do comentário...
ExcluirSylvinha, belo registro! Parabéns!
ResponderExcluirbejio
sonia pedrosa
Valeu, Soninha, bjs
ExcluirJá fui em Aracaju várias vezes e não sabia sobre este artista.Obrigada por compartilhar.
ResponderExcluirPois é. Não há divulgação. Da próxima vez deixe o seu nome,ok? Só para eu saber com quem estou falando. Abs rsrs
ExcluirEh, eh Silvinha. O do Aeroporto eu podia ver sempre. Muito bom.
ResponderExcluirUm privilégio. Esse é o painel menos acessível.
ExcluirSilvinha tive a oportunidade de passar 2 dias conversando com Jenner quando a instalação do Painel da UFS. O Campus, ainda, não tinha sido inaugurado e ficamos conversando, eu, ele é sua esposa, enquanto ele supervisionava a instalação do Painel. Bom lembrar desse encontro. É uma justa homenagem. Parabéns
ResponderExcluirQue privilégio, Neilton. Obrigada por compartilhar sua experiência.
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