

O primeiro deles talvez seja a forma como foi escavada, a partir de 1871, pelo alemão
Heinrich Schliemann, sem maiores cuidados com a preservação do que ainda estava em pé. Segundo alguns, fez assim porque sua intenção era apenas localizar o tesouro do rei Príamo, composto por peças de ouro e cobre. Mas há também a hipótese de que isso tenha ocorrido por falta de conhecimento.
Schliemann não era um arqueólogo de formação, e sim um empresário que enriqueceu e passou a praticar arqueologia com seus próprios recursos, aliementando um sonho de infância. Ele teria pedido desculpas pelo que fez a Troia pouco antes de morrer e é reconhecido como autor da importante descoberta de suas ruínas.
Troia: uma cidade com nove vidas
Outra razão para o estado do local poderia ser atribuída às sucessivas destruições. As escavações de Schliemann levaram à identificação de nove cidades, construídas sucessivamente, cada uma sobre os escombros da anterior.

De acordo com as pesquisas arqueológicas realizadas no local, teria sido na Troia VII que aconteceu a famosa guerra e o conhecido episódio do cavalo de madeira. Conta a mitologia grega que os aqueus (povos que habitavam a atual Grécia) e os troianos (povo que habitava a atual Anatólia, na Turquia) enfrentaram-se por causa de uma mulher chamada Helena e a guerra acabou levando à destruição de Troia. A história é um pouco longa, e cheia de detalhes, mas vale conhecer pelo menos o seu resumo.
Tudo teria começado na festa de casamento da deusa Tétis com o mortal Peleu, para a qual todo o Olimpo foi convidado com exceção da deusa Éris, da Discórdia. Ofendida, Éris compareceu à cerimônia e deixou uma maçã de ouro sobre a mesa onde estavam as deusas Hera, Atena e Afrodite.

Uma guerra travada pelo amor de Helena
As três deusas tentaram corrompê-lo para alcançar a condição de mais bela e, com isso, ter direito à maçã ( ou pomo) de ouro: Atena lhe prometeu sabedoria, Hera ofereceu o poder sobre a Ásia. Quem ganhou o prêmio foi Afrodite, deusa do amor, por ter oferecido a Páris a possibilidade de conquistar Helena, filha de Zeus com a rainha Leda, e descrita por ela como a mais bela mortal do mundo. Mas Helena era casada com Menelau, o rei de Esparta e, quando Páris conseguiu convencê-la a partir com ele, provocou a ira dos aqueus contra Troia.

A guerra durou dez anos e, novamente, os aqueus decidiram aceitar uma sugestão de Ulisses. Construíram um cavalo de madeira, colocaram soldados dentro dele e se esconderam em suas embarcações, simulando uma retirada. O cavalo, com guerreiros em seu interior, foi colocado na porta da cidade em sinal de paz, como um presente para a deusa Atena, que tinha um templo dentro da cidade. Ao constatar a ausência dos aqueus depois de dez anos de guerra, os troianos beberam para comemorar e caíram no sono. Quando isso ocorreu, os troianos saíram do cavalo e abriram as portas da cidade que foi invadida, destruída e incendiada.

A Eneida e a Ilíada: poemas épicos que narram a guerra
Os Lusíadas, de Luís de Camões, e A Divina Comédia, de Dante.

guerra. Narra os últimos 51 dias do conflito que teria durado 10 anos. São quase 16 mil versos compostos em um tipo de métrica conhecida como hexâmetro horóico ou hexâmetro datílico por assemelhar-se às proporções de um dedo, que tem uma falange longa e duas curtas. Era a métrica usada nos poemas épicos da Grécia Antiga.
Como na época de sua criação - provavelmente no século 8 antes de Cristo* - vigorava a tradição oral, acredita-se que a Ilíada foi divulgada originalmente por meio dos aedos, espécie cantadores que recitavam suas poesias ou obras de terceiros ao som da lira. Somente dois séculos depois é que teria ganho uma versão escrita, na qual os versos foram organizados em 24 cantos que correspondem às 24 letras do alfabeto grego.
O título Ilíada vem da palavra grega Ílion, que era o outro nome de Troia. O poema é considerado uma das obras mais importantes da literatura mundial e, ao lado da Odisséia - que conta a volta de Ulisses da mesma guerra - , representa o modelo de poesia épica. Tanto a Ilíada como a Odisséia são atrbuídas a Homero, uma figura sobre a qual pairam várias dúvidas, inclusive se realmente existiu históricamente ou se foi um personagem criado para dar uma autoria a esses e outros poemas.

resultam de uma espécie de acúmulo de histórias contadas ao longo dos séculos, como é o caso do clássico As Mil e Uma Noites.
Guerra de Tróia: Mito ou história?


Caso realmente tenha existido - e há muitos defensores dessa tese - a guerra provavelmente ocorreu na Troia VII, que teria permanecido em pé por cerca de um século, num período localizado entre 1300 e 950 antes de Cristo.

A imagem se perpetua e ganha novos terrenos
Para quem gosta do assunto, há muitas hipóteses e inúmeros detalhes a serem conhecidos, todos
muito interessantes, mas nenhum deles mais envolvente que a narrativa lendária e seu principal ícone - o grande cavalo de madeira.
Essa imagem já faz parte do repertório da cultura ocidental e deu origem à expressão popular "presente de grego", dita quando alguém quer fazer falar de forma metafórica sobre algo que se apresenta como um regalo, mas traz embutida uma surpresa desagradável. Uma das inúmeras referências atuais a essa metáfora está na canção "Anjo de fogo", de Alceu Valença*.
muito interessantes, mas nenhum deles mais envolvente que a narrativa lendária e seu principal ícone - o grande cavalo de madeira.
Essa imagem já faz parte do repertório da cultura ocidental e deu origem à expressão popular "presente de grego", dita quando alguém quer fazer falar de forma metafórica sobre algo que se apresenta como um regalo, mas traz embutida uma surpresa desagradável. Uma das inúmeras referências atuais a essa metáfora está na canção "Anjo de fogo", de Alceu Valença*.
O imaginário da guerra chegou ainda à informática, dando nome a um tipo de programa malicioso (malware) que tem a aparência de software legítimo, ou se esconde dentro de um software legítimo violado. O conhecido 'Cavalo de Troia' pode atrapalhar o desempenho de computadores, excluindo, bloqueando ou modificando dados, ou pior: roubando informações pessoais, inclusive senhas.
* "Eu sou como o vento que varre a cidade/ Você me conhece e não pode me ver./ Presente de grego, cavalo de Troia, Sou cobra jibóia, Saci Pererê..."
Troia - Hisarlik - Trôade - Anatólia - Turquia
Texto: Sylvia Leite
(1, 2, 4 ) Dina e Marco
(3, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12) Sylvia Leite
Fotos:
(1, 2, 4 ) Dina e Marco
(3, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12) Sylvia Leite
Referências:
Livros:
Ilíada, atribuído a Homero, século 8 antes de Cristo. Baixar PDF.
Eneida. de Virgílio, século 1 antes de Cristo. Baixar PDF.
Artigo:
Ilíada foi publicada nos anos 700 Antes de Cristo, de Joel N. Shurkin e Inside Science News Service.
Filmes:
Troia, de Wolfgang Petersen, 2004.
A fúria de Aquiles, de Marino Girolami, 1962.
A guerra de Troia, de Giorgio Ferrano, 1961.
Agradecimentos:
Dinorah Regis
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Tilonia
Lugar maravilhoso!! Gratidão Sylvia!
ResponderExcluirEu que agradeço, pela leitura e pelo comentário. Só faltou dizer seu nome.
ExcluirMuito bom poder constatar a história que se viu nos livros e nos filmes, né?
ResponderExcluirAmei, Sylvinha!
Beijão
sonia pedrosa
É bom mesmo, Soninha! Obrigada pelo comentário e pela constância na leitura. Beijos
ExcluirComo sempre, a leitura de seus textos é uma viagem, Sylvinha!
ResponderExcluirLendo sua matéria me lembrei de um filme muito antigo, estrelado por Rosana (ou Rossana) Podestá, no papel de Helena de Tróia. Depois desse, outros filmes abordaram essa guerra, mas sem o romantismo que marcou o primeiro.
Ainda no ginásio, meu professor de história já levantava a hipótese de que essa guerra não se deu por Helena, mas por motivos mercantilistas. Mas meu grupinho de pré-adolescentes românticas preferiu a versão cinematográfica à histórica.
Bjs,
Val Cantanhede
Gosto quando as matérias do blog trazem boas recordações aos leitores. Obrigada pelo comentário, Val. bjs
ExcluirUlisses é conhecido como um grande estrategista de guerra, porém em minha opinião ele foi um grande feminista. Varios séculos antes da era cristã ele convenceu muitos homens poderosos a respeitarem a escolha de uma mulher e a defenderem, mesmo diante da circunstância de que seus próprios interesses seriam contrariados. Viva Ulisses. ������
ResponderExcluirAugusta Leite Campos
Obrigada pelo comentário, Gusta. Beijo.
ExcluirMuito interessante. Bjs
ResponderExcluirObrigada pelo comentário. Da próxima vez deixe seu nome, k
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