
de perceber que, perdida entre os altos edifícios residenciais, de estrutura moderna e janelas de vidro, encontra-se uma construção avermelhada, em estilo medieval, com uma escultura branca na altura do primeiro andar. É o que restou de um casarão erguido no início século 20 por Humberto Pittamiglio - arquiteto ítalo-uruguaio conhecedor e praticante da Alquimia. Naquela época, segundo se conta, o edifício era usado por ele não apenas como moradia, mas também como laboratório alquímico. Hoje funciona no local um museu que leva o seu sobrenome: Castelo Pittamilgio.

O primeiro Castelo Pittamiglio


Do lado de dentro da construção, quase nada nos remete aos castelos que um dia visitamos ou vimos no cinema. A distribuição dos cômodos é quase sempre descontínua, intercalada por pátios. Há muitas escadas e nem todas levam a algum lugar. Isso ocorre também com uma ou outra porta que pode simplesmente não dar passagem para outro ambiente, por ter sido erguida rente a um muro. E se engana quem pensar que isso ocorre em decorrência da degradação do prédio. As portas com esse tipo de bloqueio representam, de acordo com o simbolismo usado por Pittamiglio, os caminhos obstruídos.

Outro fenômeno que ocorre na torre está relacionado tanto ao sol como ao uso simbólico das letras. No dia do solstício de verão, que no hemisfério Sul cai no mês de dezembro, há uma hora específica em que a luz passa por duas aberturas da torre - uma vertical e uma horizontal - e proteja a letra Tau* sobre a mesma lajota redonda central onde se obtém a amplificação da voz. Simbolicamente, essa projeção da luz em forma de Tau sobre uma torre que tem forma de atanor - o caldeirão onde ocorrem as transformações alquímicas - serviria para infundir movimento à matéria e proporcionar a realização da obra.

Os números também são elementos importantes no castelo e estão por toda parte. Aparecem nos padrões de pisos e tetos, marcados pelo 4, número que representa a terra, ou em outros detalhes decorativos baseados no 8, que é o número do equilíbrio e do caminho espiritual. Os polígonos de oito lados são usados em azulejos, mosaicos e até como base de uma espécie de pináculo em uma torre localizada no meio do castelo.
A visão desse octógono só é possível a partir da antiga entrada principal da casa que fica na Rua Francisco Vidal, do outro lado do quarteirão, e hoje está ocupada por um restaurante. Nessa área do castelo, onde se localizam as salas, a cozinha e o pátio de entrada, encontra-se também o que Pittamiglio chamava de quarto de reflexão - um pequeno cômodo, sem móveis ou decoração, separado dos outros ambientes por uma porta de ferro.
É nessa entrada principal do castelo - onde hoje se encontra o restaurante - que está mais evidente a mistura de referências. Ali já existiu uma escultura de São Francisco de Assis e ainda resta uma pietá e outras imagens cristãs. Não muito longe, está um busto de Napoleão e um balcão em alusão à obra de Shakespeare, Romeu e Julieta. Em uma espécie de copa, que fica embaixo da cozinha, há um vitral com as iniciais de Pittamiglio que lembram um quadrado mágico.
As curiosidades sobre o castelo de Montevidéu não param aqui. Há quem diga, inclusive, que no período de 1944 a 1955 a construção abrigou o Santo Graal, mas é preciso falar um pouco sobre a construção de veraneio.
O segundo castelo Pittamiglio

É também do lado de fora que se encontram esculturas de cegonhas, caminhos simbólicos traçados entre os canteiros e uma representação das cenéforas - jovens virgens de famílias poderosas que residiam no templo de Minerva. Elas,as cenéforas, participavam das festas de adoração aos deuses portando cestas onde escondiam os objetos sagrados para que não fossem vistos pelos profanos.

* Tau é o nome da décima nona letra do alfabeto grego e a última do alfabeto hebraico. A forma da letra grega lembra um T e foi usada e pelo Cristianismo como símbolo da cruz - e ainda hoje é mantida pelos franciscanos.
** Piriápolis é tema de um matéria publicada neste blog.
Castelo Pittamiglio - Montevidéu - Uruguai
Castelo Pittamiglio - las Flores - Maldonado - Uruguai
Fotos: Sylvia Leite
Referências:
Visita guiada
Livro LAS VOCES EN LA PIEDRA - El legado del Alquimista Humberto Pittamiglio, de Fernando Rodriguez.
Para realizar esta matéria, o blog 'lugares de memória' contou com a importante colaboração:
1- Da jornalista Inês Bagnasco, que me levou em seu carro para conhecer o castelo de Maldonado e me contou tudo que sabia sobre Pittamiglio.
2- Do jornalista uruguaio e presidente da CIPETUR, Roque Baldeán, que me apresentou a Inês para que fizéssemos a viagem.
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Referências:
Visita guiada
Livro LAS VOCES EN LA PIEDRA - El legado del Alquimista Humberto Pittamiglio, de Fernando Rodriguez.
Para realizar esta matéria, o blog 'lugares de memória' contou com a importante colaboração:
1- Da jornalista Inês Bagnasco, que me levou em seu carro para conhecer o castelo de Maldonado e me contou tudo que sabia sobre Pittamiglio.
2- Do jornalista uruguaio e presidente da CIPETUR, Roque Baldeán, que me apresentou a Inês para que fizéssemos a viagem.
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Belo registro, Sylvinha!!! Adorei recordar essa viagem maravilhosa!
ResponderExcluirFoi maravilhosa mesmo! beijo
ExcluirQue maravilha sua matéria, Sylvinha!
ResponderExcluirOs alquimistas e seus insondáveis mistérios são fascinantes.
Abraços,
Val Cantanhede
São mesmo, Val. Obrigada pelo comentário.
ExcluirComo sempre adorei
ResponderExcluirQue bom! Adoraria saber seu nome. Da próxima vez não esqueça de informar, ok? Abraço.
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