

Há quem afirme, no entanto, que a real intenção da mudança era confinar os mestres vidreiros, a fim de proteger seu conhecimento e evitar que as técnicas desenvolvidas ou aperfeiçoadas na região fossem levadas a outros países.

compensar a proibição, ou mesmo para evitar o seu descumprimento, que seria punido com a morte - esses artistas tinham regalias que iam desde a autonomia para cunhar uma moeda própria das ilhas até a permissão para casar as filhas com qualquer integrante da nobreza.
Um dos segredos que os vidreiros não podiam divulgar seria o uso de soda cáustica na mistura logo depois que a areira é derretida, o que tornaria o vidro mais puro e mais flexível, aumentando a limpidez e facilitando o seu manuseio. Além disso, aqueles artistas guardavam sofisticadas técnicas de coloração em camadas utilizadas em vasos e peças de decoração e teriam descoberto como fabricar espelhos em vidro soprado plano utilizando uma mistura de prata e ouro em vez de estanho, como era comum na época.
Em pouco tempo, Murano tornou-se conhecida em toda parte tanto pelos espelhos como pelos lustres, que eram feitos sob encomenda para decorar palácios e castelos. Chegou a ser o maior produtor de cristal da Europa e, com o tempo, seu nome foi sendo associado a produtos obtidos a partir de diversas técnicas como Aventurine (cristais com fios de ouro), Millefiori (vidro multicolorido com padrões de flores) e Lattimo (leitoso), entre outras.
Em pouco tempo, Murano tornou-se conhecida em toda parte tanto pelos espelhos como pelos lustres, que eram feitos sob encomenda para decorar palácios e castelos. Chegou a ser o maior produtor de cristal da Europa e, com o tempo, seu nome foi sendo associado a produtos obtidos a partir de diversas técnicas como Aventurine (cristais com fios de ouro), Millefiori (vidro multicolorido com padrões de flores) e Lattimo (leitoso), entre outras.
Murano: um objeto de desejo permanente
Apesar de terem aprendido a fazer vidro com bizantinos e islâmicos, e de não serem os criadores de boa parte das técnicas que utilizavam, os vidreiros venezianos estabelecidos em Murano aperfeiçoaram esse conhecimento e acabaram criando uma identidade ainda hoje respeitada no mundo inteiro.

A mistura de cores, os pigmentos metálicos ou a transparência, aliados à criatividade aguçada pela competição entre as famílias, parecem envolver as peças de Murano em uma espécie de fetiche que as fazem desejadas como verdadeiras joias.
São lustres, candelabros e vasos que vêm decorando as residências da nobreza europeia ao longo de séculos e acabaram se tornando peças indispensáveis nos mais requintados projetos de decoração - fruto de técnicas artesanais, passadas de pai para filho, sem nenhuma concessão às facilidades industriais - o que as torna exclusivas.
Millefiori: uma das 'marcas registradas' de Murano
Sua metodologia consiste na produção de canudos denominados 'murrines' que são recheados com outros mais finos e se organizam de maneira a formar desenhos de flores visíveis apenas nas superfícies superior e inferior. Depois de prontos, os canudos são fatiados dando origem a pequenas lâminas que, dispostas lado a lado, são fundidas e formam padrões .
Sua autoria é atribuída a romanos, fenícios ou alexandrinos e essa denominação italiana (Millefiori) teria surgido somente a partir de 1849, quando o fabricante inglês Apsley Pellatt a utilizou em seu livro "Curiosidades da fabricação de vidro", mas foi com esse nome que ficou conhecida no mundo inteiro e hoje suas peças são automaticamente associadas a Murano.
A Milleifori adquiriu tanta fama em Murano que, na década de 1980, foi criada uma espécie argila semelhante a uma massa de modelar, que permite a aplicação dessa técnica de forma caseira, com fundição em forno doméstico. O resultado final é bem diferente do que é obtido em vidro, mas a técnica também é denominada Millefiori.

Do confinamento à exploração turística
Se na Idade Média os vidreiros eram escondidos para não passarem seus conhecimentos, hoje, que os segredos já foram espalhados pelo mundo, Murano parece estar sempre à espera de visitantes. Isso fica claro ao percorrermos a Fondamenta dei Vetrai -uma rua que margeia o canal e está repleta de lojas.
Nas vitrines, ao lado dos requintados lustres e peças de decoração, encontram-se copos, bijuterias e pequenos objetos - como cinzeiros, pesos de papel e miniaturas de animais - que parecem criados especialmente para serem vendidos como lembranças de viagem. E, para completar, as boas vindas aos visitantes são dadas também por esculturas de vidro localizadas em praças.
Tesselas de mosaico: o lado oculto da produção de Murano
Pouca gente sabe, mas grande parte dos mosaicos históricos da Itália - como é o caso, apenas para exemplificar, dos encontrados na vizinha ilha de Torcello - são compostos por pedacinhos de vidro em forma de paralelepípedo produzidos em Murano e conhecidos como tesselas.
Atualmente, grande parte da produção moderna dessa arte é feita com pastilhas ou azulejos cortados por uma ferramenta denominada turquês, mas quem deseja compor um mosaico em estilo romano, com material igual ou semelhante ao usado nos monumentos antigos, precisa usar as tesselas de Murano. Mesmo assim, enquanto os lustres, candelabros, vasos e peças de Millefiori são divulgados por toda parte, as tesselas, além de não terem qualquer publicidade, não estão à venda no comércio.
Atualmente, grande parte da produção moderna dessa arte é feita com pastilhas ou azulejos cortados por uma ferramenta denominada turquês, mas quem deseja compor um mosaico em estilo romano, com material igual ou semelhante ao usado nos monumentos antigos, precisa usar as tesselas de Murano. Mesmo assim, enquanto os lustres, candelabros, vasos e peças de Millefiori são divulgados por toda parte, as tesselas, além de não terem qualquer publicidade, não estão à venda no comércio.
Buscar pelos depósitos onde essas tesselas são comercializadas é algo que só interessa a quem trabalha ou trabalhou com mosaico, mas saber de sua existência aumenta o encanto do lugar e cria, para os visitantes, uma espécie de alerta que ajudará na identificação de materiais em cada obra de mosaico que eles forem observar de agora em diante.
Murano - Lagoa de Vezeza - Vêneto - Itália
Texto: Sylvia Leite
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Tilonia
Aiii Sílvia que demais seu trabalho !!!!!! Acabo de saber que tenho uma
ResponderExcluirPeça de Millefiori , meu pai me trouxe certa vez q foi pra Europa , eu não sabia q era uma peça dessa .... e ainda tenho o lustre de meu avô todo de cristal Murano , de geração a geração ... e que demais saber que os vidreiros foram confinados lá .... Pütz , sou fã do seu trabalho viu !!! Paula Cecília
Obrigada, Paula Cecília. Bom saber disso. Volte sempre! bjs
ExcluirÓtimo aprender tantas coisas interessantes sobre Murano, que em geral visitamos como turistas apressados, "chimando" os belíssimos cristais e levando de consolo uns pratinhos e bichinhos minúsculos (lindos, também). Obrigada, Sylvinha, por mais essa "viagem" que nos oferece, com sua marca de objetividade e concisão de sempre. Jane Netto
ResponderExcluirEu que agradeço, Jane, pela leitura e pelo comentário.Bjs
ExcluirJá fui lá , mas não sabia da história. Adorei!
ResponderExcluirQue bom. Mas queria saber seu nome. Não esquece de colocar da proxima vez?
ExcluirSylvinha, muito bom saber mais sobre Murano! Com história, a visita se torna melhor, sem dúvida! parabéns!
ResponderExcluirps. as fotos estão ótimas!
Valeu, Soninha! bj
ExcluirLindíssimas !!!
ResponderExcluirConcordo. Obrigada pelo comentário.
ExcluirSuper interessante. O Blog continua trazendo histórias que nos deixam impressionados. Parabéns Silvinha.
ResponderExcluirObrigada, Sidney. Feliz com sua assiduidade rsrsr bj
ExcluirSylvia que interessante a história do Murano. Vou olhar com mais atenção entre os objetos de minha herança e identificar eles.
ResponderExcluirAugusta Leite Campos
Obrigada, Gusta. Olhe sim, deve ter pelo menos uma peça.
ExcluirMais uma delícia de texto!
ResponderExcluirA arte em vidro é de uma beleza e de uma delicadeza impressionantes. A magia está presente nas mãos desses alquimistas.
Amei seu texto, Sylvinha!
Abraços
Val Cantanhede
Obrigada, Val. Bom te ver por aqui toda semana! Abraços
ExcluirQue post mais maravilhoso, repleto de informações, curiosidades e muita beleza nas fotos. Quero muito conhecer a região. Sou apaixonado por esse trabalho artesanal. Amei a postagem!
ResponderExcluirQue bom que gostou, Lucio. O trabalho deles é realmente apaixonante. Se for, não deixe de visitar uma fábrica.
ExcluirAiii essa ilha é uma beleza, que delicia viajar por Murano cm vc e saber um pouco mais sobre as curiosidades desse lugar tao pitoresco. :)
ResponderExcluirÉ uma beleza mesmo. O lugar é muito bonito e agradável e o trabalho com o vidro é fascinante.
ExcluirQue interessante, não conhecia a história da ida compulsória dos artistas do vidro para Murano. Post recheado de conhecimento. Não vejo a hora de voltar para Veneza para conhecer Murano e Burano também.
ResponderExcluirTodas as ilhas da região são interessantes. Breve farei matéria sobre Torcello, que também é incível.
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