

Quem já esteve na gruta, sabe que Rosa não exagerou. Mesmo com as passarelas criadas posteriormente para facilitar o trânsito dos turistas, e com a iluminação artificial - elementos estranhos que tiram parte da naturalidade do ambiente - visitar Maquiné é entrar em um mundo encantado de formas e cores.
São sete salões repletos de esculturas naturais talhadas pela água que parecem brotar do teto e do chão e são chamadas científicamente de estalactites e estalagmites, além de outras figuras que lembram colunas, cascatas ou animais. Sua constituição teria ocorrido mais de 500 milhões de anos atrás, na Era Neoproterozóica, quando o local, que hoje é sertão, ainda encontrava-se no fundo do mar, ou de um lago.
A lenda da Gruta de Maquiné
Conta-se que em um bosque muito bonito vivia um rei muito magro, magérrimo, que estava acostumado a ter tudo o que desejava e vivia exigindo de seus vassalos novas formas de diversão. Seus principais auxiliares eram o Gorducho, que o ajudava a locomover-se quando batia a fraqueza, e 13 anõezinhos artistas, que faziam música, pinturas, desenhos, esculturas e versos.

Chegou um momento em que o rei não se satisfazia mais com o trabalho dos anõezinhos e resolveu pedir ao mágico que apresentasse alguma novidade. A sugestão que recebeu foi que viajasse, mas como ele era muito magro, e concluiu que se viajasse iria emagrecer mais ainda, exigiu do mágico que encontrasse uma forma de se transportar sem fazer esforço.
Depois de muito tempo pensando e recebendo cobranças do rei, o mágico encontrou a solução: um espelho mágico capaz de transportá-lo a qualquer lugar. Mas o mágico fez uma recomendação: o espelho tinha que ser muito bem cuidado durante as viagens porque se ele quebrasse o rei não conseguiria mais voltar para casa.
Ao saberem dos poderes mágicos do espelho, os anõezinhos e o Gorducho resolveram fugir do reino e no momento em que o rei ia iniciar sua primeira viagem, os catorze jogaram-se contra ele na esperança de irem também. Imediatamente, todos caíram em uma gruta.

Ao perceber que os anões e o Gorducho queriam fugir, o rei sacou sua espada para executá-los mas ao tentar atacá-los, o rei acabou quebrando o espelho e ninguém conseguiu mais voltar para casa.
Os anões, que eram artistas, juntaram-se ao Gorducho, que era forte, e começaram a abrir galerias e a decorar as paredes, pisos e tetos da gruta com pinturas e esculturas e foi assim que, segunda a lenda, nasceu a beleza da Gruta de Maquiné.

A descoberta da gruta no século 19
Apenas nove anos depois, Maquiné começou a ser explorada cientificamente pelo naturalista dinamarquês Peter Wilhelm Lund, que acabou se tornando o pai da Paleontolgia e da Arqueologia no Brasil.
Maquiné não foi a única gruta estudada por Lund, nem a primeira, mas certamente foi a que mais o impressionou, a julgar por esse conhecido comentário feito por ele: "A mais rica imaginação poética não saberia engendrar uma tão esplêndida morada para os seres maravilhosos; [...] confesso que, seja quanto à natureza, quanto à arte, jamais contemplei algo tão maravilhoso".
Conta-se que Lund chegou a morar dentro da caverna pelo período de dois anos e ali encontrou fósseis de aves gigantes e de diversos mamíferos, entre os quais se destacam Tigre Dente de Sabre (Smilodon Populator) e a Preguiça Pequena (Nothrotherium Maquinensis). Há duas hipóteses para a presença desses fósseis em Maquiné: os animais teriam entrado na gruta para fugir de predadores ou seus corpos teriam sido arrastados até ali pela água.
O Zoológico de Pedra
Pelo menos alguns dos animais cujos fósseis foram encontrados na Gruta de Maquiné estão representados na Praça Octacílio Negrão de Lima, localizada no centro de Cordisburgo, que é conhecida também pelo nome de Zoológico de Pedra Peter Lund.
São apenas seis imagens feitas com tela, areia e cimento pelo artista Stamar Azevedo. O Zoológico de Pedra não é um espaço fechado como o nome pode sugerir. Sequer tem uma área exclusiva para suas esculturas que convivem com árvores, um coreto e alguns equipamentos de ginástica. Mas impressiona pela surpresa de se encontrar espalhadas em uma praça, numa cidade do interior, esculturas de mamíferos que povoaram a nossa pré-história.
1 - "O recado do morro" é um dos contos do livro "Urubuquaquá no Pinhém", que compõe a trilogia Corpo de Baile. Os outros livros da trilogia são "Manuelzão e Miguilim" e "Noites do sertão"
2 - Você pode ler sobre Cordisburgo, a terra de Guimarães Rosa, no aqui blog. Basta clicar e acessar a postagem.
Gruta de Maquiné - Cordisburgo - Minas Gerais - Brasil
Texto: Sylvia Leite
Fotos: Sylvia Leite
Referências
Site oficial da Gruta de Maquiné (obs: site com problema de acesso)
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Site oficial da Gruta de Maquiné (obs: site com problema de acesso)
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Coisa linda!
ResponderExcluirÉ mesmo, Maga!
ExcluirAdorei a matéria e fiquei com vontade de conhecer essa gruta. Ainda mais com essa.historia e Guimarães Rosa circulando.Beijos
ResponderExcluirPois é. Indo lá você pode conhecer também a Casa de Guimarães Rosa. E se for na Semana Rosiana participa de uma maratona literária. Já pensou?
ExcluirLeia a matéria
https://www.lugaresdememoria.com.br/2018/07/cordisburgo-um-mergulho-no-grande.html
Adorei a matéria e fiquei com vontade de conhecer essa gruta. Ainda mais com essa.historia e Guimarães Rosa circulando.Beijos
ResponderExcluirPois é. Indo lá você pode conhecer também a Casa de Guimarães Rosa. E se for na Semana Rosiana participa de uma maratona literária. Já pensou?
ExcluirLeia a matéria
https://www.lugaresdememoria.com.br/2018/07/cordisburgo-um-mergulho-no-grande.html
Maravilhosa reportagem Silvinha !
ResponderExcluirAdorei !!!!
Beijos
Obrigada,Pablo!
ExcluirConheci a gruta na minha adolescência, não existia a atual infra-estrutura, era natural e linda. Não sabia a história da sua descoberta e tão pouco a lenda. Grato por me fazer lembrar de um lugar tão bonito.
ResponderExcluirQue sorte! Conheceu da melhor maneira! Eu que agradeço pela leitura e pelo comentário.
ExcluirAmei.Vou compartilhar
ResponderExcluirÓtimo. A quem devo agradecer?
ResponderExcluirExecelente Silvinha como sempre.
ResponderExcluirObrigada, Sidney. Bjs
ExcluirMais um fantástico texto sobre uma de nossas maravilhas da natureza. Parabéns Sylvia. Augusta Leite Campos.
ResponderExcluirObrigada, Gusta. Gosto muito de te ver por aqui.
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