Casa de pedra: um mini Park Güel em Paraisópolis

Tempo de Leitura: 4 minutos

Atualizado em 17/10/2022 por Sylvia Leite

Estevão na Casa de Pedra - Foto Cristina Gallo - BLOG LUGARES DE EMEMÓRIAAs ideias estão aí, pairando no ar, e mais de uma pessoa pode introjetá-las, em diferentes épocas. Se não for assim, como explicar o fato de alguém ter construído um castelinho que parece obra de Gaudí, sem nunca ter ouvido uma só palavra sobre o artista catalão? Falo da Casa de Pedra, localizada em Paraisópolis – uma das maiores favelas de São Paulo.

O autor e proprietário é o jardineiro, agora reconhecido como artista plástico, Estevão Silva da Conceição. Ele só queria uma casa com jardim, mas os 75m² de seu terreno não eram suficientes para comportar esse sonho. Depois de erguer uma armação de ferro e cimento para guiar uma roseira – que era a única planta da casa – Muro da Casa de pedra - Foto Cristina Gallo - BLOG LUGARES DE EMEMÓRIteve a ideia de usar o mesmo tipo de estrutura na construção de um jardim suspenso.

Para dar vida às paredes e colunas, pois não gostava de olhar para o cimento cinza, Estevão foi incrustando pedras e todo tipo de objeto: pratos, canecos, máscaras. Aos poucos, esse universo foi se ampliando e vieram as imagens de santos, máquinas fotográficas, relógios, chaves e outros utensílios de metal.

Apesar de algumas peças estarem cortadas, ou quebradas, ele garante que tudo foi comprado em bazares e brechós, ou recebido de amigos. Nada é sucata. O resultado dessa equação é um castelinho encantado que lembra muito o Park Güell.Visão interna da casa de Estevão- Foto Cristina Gallo - BLOG LUGARES DE EMEMÓRI

Antes da Casa de Pedra

O autor da Casa de Pedra nasceu no sertão da Bahia e tem o mesmo nome do santo que nomeia a sua cidade: Santo Estevão. Estudou um pouco, mas não ultrapassou o primeiro grau. Logo que se mudou para São Paulo, no final da década de 1970, trabalhou como servente de pedreiro, vigia e montador e viveu em alojamentos. Depois passou a ser porteiro e jardineiro. Foi nessa época que chegou a Paraisópolis.

Detalhe da decoração com loucas e cacos -Foto Cristina Gallo - BLOG LUGARES DE EMEMÓRIAA Casa de Pedra começou a ser construída há cerca de três décadas, mas somente por volta de 2.000 é que foi descoberta por uma jornalista e uma estudante de arquitetura. Até alí, Estevão não tinha consciência de que seu jardim suspenso era um trabalho artístico e poderia atrair a atenção de pessoas do mundo inteiro.

Em pouco tempo, o jardineiro tornou-se conhecido como artista plástico e, em 2002, foi levado a Barcelona, com ajuda da Fundação Gaudí, para participar das comemorações pelos 150 anos do artista catalão. Ele conheceu a obra do seu antecessor, reconheceu a semelhança com a sua, e acabou ganhando o apelido de “Gaudí brasileiro”.

Estevão também virou tema do documentário “Gaudí en la favela”, de Sergio Oksman, diretor brasileiro que vive na Espanha há mais de 20 anos e teve sua obra apresentada no livro “Contando a arte de Estevão”, do crítico Oscar D’Ambrosio, editado pela Sowilo Editora.Detalhe da decoração com loucas e cacos -Foto Cristina Gallo - BLOG LUGARES DE EMEMÓRIA

Ao voltar para o Brasil, transformou sua residência em museu e passou a cobrar entrada de quem quisesse conhecer o jardim suspenso. No começo, tudo era muito informal e nem sempre tinha gente em casa para receber os visitantes. Hoje as visitas estão institucionalizadas e a Casa de Pedra faz parte do Circuito Paraisópolis das Artes.
Com a divulgação de seu trabalho, Estevão passou a ser procurado por pessoas que queriam ter peças suas e, para responder a essa demanda, ele começou a produzir vasos e outros objetos com o mesmo tipo de incrustação usada na casa.

Um Museu-Casa peculiar

Quarto do casal - Foto Divulgação - BLOG LUGARES DE EMEMÓRIADois aspectos diferenciam a Casa de Pedra da maioria dos outros museus-casa: a primeira é que a construção em si é que constitui a obra do artista e a segunda é o fato do local continuar sendo sua residência, onde vive com a mulher, Edlene Souza Conceição e os filhos Stefana e Enrique.

Os atrativos não param aí. Embora com contornos mais delicados, os cômodos da casa também são repletos de pecinhas, tanto nas paredes como no teto. O quarto do casal parece uma tapeçaria, formada por frisos e estrelas.

Quem consegue escalar os patamares do jardim, tem a sensação de estar subindo em uma rede de árvores. Ao chegar lá em cima, a cerca de 8m do chão, encontra as plantas que caracterizam o jardim suspenso. De quebra, pode observar a vista da favela e do vizinho Morumbi.

Desbravar a Casa de pedra é uma experiência lúdica e estética. Daria para escrever muitas páginas, e descrever os detalhes, mas nada que se diga, ou mostre, vai expressar a sensação de explorar esse labirinto colorido.1

1Leia, aqui no blog, matérias sobre outros lugares especiais de São Paulo: Galeria do Rock, Bixiga, Teatro Oficina, Vila Itororó

Casa de pedra – Paraisópolis – Morumbi – São Paulo – Brasil – América do Sul

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Virginia Finzetto
5 anos atrás

Adorei. Que criatividade. Tão perto de nós e eu não conhecia… Obrigada.

Anônimo
Anônimo
5 anos atrás

Super legal! O cara é arquiteto, engenheiro e decorador! Marina

Pablosz
5 anos atrás

Excelente a matéria Sylvia. Adotei conhecer a casa de Pedra.

Maria Auxiliadora fernandes
Maria Auxiliadora fernandes
5 anos atrás

Que coisa extraordinária!!!! Que orgulho desse conterrâneo genial!!!! Nossa, fiquei acabeunhafa de conhecer Gaudí e não conhecer esse incrível artista brasileiro, baiano,pau de arara!

Maria Consuelo
5 anos atrás

Espetacular!

Unknown
5 anos atrás

Animada a conhecer o local. Fantástico. Gratidão por compartilhar a informação.

Val Cantanhede
5 anos atrás

Quanta beleza e criatividade do Estêvão! Lembrei-me das obras do sergipano Artur Bispo do Rosário.
Parabéns pela matéria, Sylvinha!
Abraços,
Val Cantanhede

Anônimo
Anônimo
5 anos atrás

Que barato. Fiquei curioso. Mas acho que faz parte do teu objetivo mesmo.
Brigado. Sempre fácil et gostoso de ler.
Boas festas.
Mil beijos.
Joaquim

Anônimo
Anônimo
5 anos atrás

A casa de Pedra é a expressão do mistério da ilimitada capacidade artística e de superação do ser humano. Gostaria muito de visitá-la quando fosse a Sao Paulo.
Augusta Leite Campos

Sidney Menezes
5 anos atrás

Muito legal. Assisti algo sobre o tema mas, foi muito rápido. O texto nos dá uma visão mais ampla.