
ali, na pequena Brodowski, que se concentra praticamente toda história de Cândido Portinari, o pintor brasileiro que alcançou maior projeção internacional.

torno dela, e do que presenciou ali, que girou quase toda sua obra, cuja temática oscila especialmente entre o cenário rural do interior, os temas históricos e a religião católica, adotada também por sua família.
Desde o final da década de 1960, a casa onde viveu sua infância, junto com as pinturas murais que fez nas paredes depois de adulto, está tombada pelas instituições de patrimônio histórico e artístico. No local funciona o Museu Casa de Portinari - um acervo de afrescos, têmperas e desenhos, além de objetos pessoais, utensílios domésticos e elementos arquitetônicos ou decorativos que revelam o universo do artista.
A vida em Brodowski
Cândido Portinari nasceu na fazenda Santa Rosa, onde seu pai, imigrante italiano, trabalhava na lavoura de café, mas quase toda sua infância se passou na casa que virou museu. Por volta dos seis anos, o artista já desenhava: "eu fazia uma maçã, dentro da maçã fazia uma mesa e em cima da mesa punha outra maçã. Pintei isso não sei quantas vezes", contou ao amigo e biógrafo Antonio Callado.
Quando ainda estava no grupo escolar, Portinari teve sua primeira experiência profissional. Foi como ajudante de um grupo de artistas que chegaram a Brodowski para decorar a igreja com a técnica de spolvero. Logo depois, conheceu um 'frentista' - chamado assim porque esculpia anjos em frente à igreja - e, trabalhando com ele, recebeu seu primeiro pagamento: um patacão de dois mil réis.

Esse ambiente religioso acabou levando o artista à temática sacra, uma das mais presentes em sua obra, apesar do seu confessado ateísmo. Além de estar no centro de suas primeiras experiências artísticas, a religião fazia parte do dia a dia da família, especialmente da avó paterna, Pellegrina, para quem, mais tarde, ele construiu e pintou uma capela no jardim da casa.
Um de seus trabalhos mais famosos foi feito para uma igreja: a de São Francisco de Assis, na Pampulha. São 14 telas que descrevem a Via Crúcis. Portinari também é autor da pintura do altar-mor e do painel externo, feito em azulejos, que conta a história do santo.
Mas foram os temas rurais, especialmente os de cunho social ou histórico, que o tornaram famoso no mundo inteiro. Ele pintou os meninos de Brodowski, porque foi um deles. Pintou os lavradores de
café, nos quais se incluía seu pai e pintou também os retirantes porque não se conformava com as injustiças sociais. Chegou a ser candidato a deputado pelo partido comunista e conta-se que comemorou a própria derrota porque durante a campanha se deu conta de que não queria parar de pintar para ser político. Um pouco por essa filiação ao comunismo, e outro tanto por causa da maneira como retratou São Francisco ao lado de um cachorro, a obra de Portinari na Pampulha não foi aceita pelo arcebispo da época e passou anos sem ser utilizada
para celebrações.
Entre as conquistas que marcaram sua carreira estão a menção honrosa para a tela Café, em uma exposição internacional do Carnegie Institute, de Pittsburgh, nos Estados Unidos (1935), a medalha de ouro do
II Congresso Mundial de Partidários da Paz, realizado em Varsóvia
(Polônia), pelo painel Tiradentes (1950) e a medalha de ouro concedida pelo Internacional Fine-Arts Council, de Nova York, como o melhor pintor do ano (1955).
Outro significativo momento de sua carreira foi a produção da obra Guerra e Paz, encomendada pelo governo brasileiro para a sede das Nações Unidas, em Nova Iorque. Assim como as pinturas da Pampulha, esses enormes painéis são conhecidos de muitos. Se não ao vivo, pelo menos nas reproduções, que estão em livros, folhetos, sites e blogs. Mas talvez não seja tão grande o número de pessoas os que já tiveram acesso, em Brodowski, às pinturas murais preservadas na antiga residência da família e ao universo familiar no qual Portinari forjou sua arte.
O que primeiro se vê ao chegar ao local são os jardins, que eram cultivados por sua mãe, dona Domingas, e hoje conservam elementos da época em que os Portinari viviam ali - caso dos canteiros projetados pelo artista que formam a palavra Dio (Deus em Italiano).
Lá dentro, hábitos e gostos continuam a ser revelados. Pequenos cômodos exibem desde as partes sociais até as mais íntimas, como quartos e banheiros, passando pelo escritório onde ainda se pode ver muitos dos seus instrumentos de trabalho.
Fotografias e recursos eletrônicos ajudam no resgate histórico da carreira e da vida familiar.
Mostram que Portinari foi o segundo de 12 filhos e que sempre recebeu apoio de todos em seu desejo de ser artista. Revelam a lógica de uma casa construída ao longo dos anos, sem qualquer planejamento, ampliando-se de acordo com as necessidades e as possibilidades da família.
Nas portas e janelas, um azul escuro nos remete à cor que ganhou fama nas telas do artista e ficou conhecida como "Azul Portinari". As paredes exibem um total de vinte pinturas murais - dezessete do próprio Portinari e três de pintores amigos. Chamam grande atenção o perfil da avó materna Maria Torquato e a imagem de São Francisco.
Um dos afrescos foi descoberto recentemente, durante as obras de restauração da casa, que duraram cerca de dois anos e revelaram quinze camadas de tinta em suas paredes. É uma madona segurando um menino Jesus. Depois de um longo estudo, chegou-se à conclusão de que a
autoria é mesmo de Portinari com a participação de um ajudante ainda não identificado.
O que mais impressiona, no entanto, é a Capela da Nonna presenteada à avó. É tão pequena que parece mesmo ter sido feita para uma só pessoa. Em compensação, toda a extensão de suas paredes está coberta por pinturas murais. São imagens de Jesus Cristo e dos santos preferidos de dona Pellegrina retratados com a aparência de amigos e familiares. São Pedro, por exemplo, teve como modelo Batista Portinari, o pai de do
artista.
O Museu Casa de Portinari já seria motivo suficiente para a viagem, mas quem chaga até lá não pode perder a oportunidade de conhecer uma outra parte das cerca de 5 mil obras deixadas pelo artista. A primeira parada é a Capela de Santo Antônio, ainda em Brodowski, que exibe no altar uma enorme imagem do santo. O quadro foi doado por Portinari com a condição expressa, registrada no Termo de Doação, de que nunca saia da igreja.
Na vizinha Batatais, que fica a menos de 20 km do Museu Casa, encontram-se mais 23 obras. É o maior acervo sacro do artista no qual se inclui uma Via Crucis pintada especialmente para decorar a Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus da Cana Verde e o painel "Jesus e seus apóstolos", que decora o altar. Entre 2009 e 2013, as obras estiveram em risco
de decomposição por desgaste natural, infiltrações e ataques de cupins, mas depois de uma batalha judicial e 10 meses de trabalho, as obras foram restauradas e devolvidas à igreja.
Da pintura à poesia


Esse ambiente religioso acabou levando o artista à temática sacra, uma das mais presentes em sua obra, apesar do seu confessado ateísmo. Além de estar no centro de suas primeiras experiências artísticas, a religião fazia parte do dia a dia da família, especialmente da avó paterna, Pellegrina, para quem, mais tarde, ele construiu e pintou uma capela no jardim da casa.
De Brodowski para o mundo
Um de seus trabalhos mais famosos foi feito para uma igreja: a de São Francisco de Assis, na Pampulha. São 14 telas que descrevem a Via Crúcis. Portinari também é autor da pintura do altar-mor e do painel externo, feito em azulejos, que conta a história do santo.
Mas foram os temas rurais, especialmente os de cunho social ou histórico, que o tornaram famoso no mundo inteiro. Ele pintou os meninos de Brodowski, porque foi um deles. Pintou os lavradores de
café, nos quais se incluía seu pai e pintou também os retirantes porque não se conformava com as injustiças sociais. Chegou a ser candidato a deputado pelo partido comunista e conta-se que comemorou a própria derrota porque durante a campanha se deu conta de que não queria parar de pintar para ser político. Um pouco por essa filiação ao comunismo, e outro tanto por causa da maneira como retratou São Francisco ao lado de um cachorro, a obra de Portinari na Pampulha não foi aceita pelo arcebispo da época e passou anos sem ser utilizada

Entre as conquistas que marcaram sua carreira estão a menção honrosa para a tela Café, em uma exposição internacional do Carnegie Institute, de Pittsburgh, nos Estados Unidos (1935), a medalha de ouro do
II Congresso Mundial de Partidários da Paz, realizado em Varsóvia
(Polônia), pelo painel Tiradentes (1950) e a medalha de ouro concedida pelo Internacional Fine-Arts Council, de Nova York, como o melhor pintor do ano (1955).
Outro significativo momento de sua carreira foi a produção da obra Guerra e Paz, encomendada pelo governo brasileiro para a sede das Nações Unidas, em Nova Iorque. Assim como as pinturas da Pampulha, esses enormes painéis são conhecidos de muitos. Se não ao vivo, pelo menos nas reproduções, que estão em livros, folhetos, sites e blogs. Mas talvez não seja tão grande o número de pessoas os que já tiveram acesso, em Brodowski, às pinturas murais preservadas na antiga residência da família e ao universo familiar no qual Portinari forjou sua arte.
O Museu Casa de Portinari

Lá dentro, hábitos e gostos continuam a ser revelados. Pequenos cômodos exibem desde as partes sociais até as mais íntimas, como quartos e banheiros, passando pelo escritório onde ainda se pode ver muitos dos seus instrumentos de trabalho.
Fotografias e recursos eletrônicos ajudam no resgate histórico da carreira e da vida familiar.

Nas portas e janelas, um azul escuro nos remete à cor que ganhou fama nas telas do artista e ficou conhecida como "Azul Portinari". As paredes exibem um total de vinte pinturas murais - dezessete do próprio Portinari e três de pintores amigos. Chamam grande atenção o perfil da avó materna Maria Torquato e a imagem de São Francisco.

autoria é mesmo de Portinari com a participação de um ajudante ainda não identificado.
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artista.
Entre Brodowski e Batatais
de decomposição por desgaste natural, infiltrações e ataques de cupins, mas depois de uma batalha judicial e 10 meses de trabalho, as obras foram restauradas e devolvidas à igreja.
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Igreja Matriz de Batatais - painel Jesus e seus apóstolos |
Da pintura à poesia
Portinari sabia que seu meio de expressão era a pintura. Quando um médico tentou encorajá-lo a iniciar outra atividade longe das tintas, a fim de não agravar a contaminação por chumbo que acabou lhe tirando a vida, ele respondeu que se não fosse pintor, seria pintor. Por outro lado, sempre se declarou apaixonado pela poesia.
Ao ser entrevistado por seu amigo e biógrafo Antonio Callado, explicou assim o fato de Chagall ter sido o pintor que mais o fascinou quando morou na França: "A poesia sempre me venceu e Chagall é um pintor poético. Quando vejo um tema poético realizado em pintura fico com inveja."
De tanta paixão, acabaram saindo muitos versos. Alguns sobre as coisas, outros sobre ele mesmo:
Sou o fio d'água furtado
Pelas areias. Todas as coisas
Frágeis e pobres
Se parecem comigo.
Mas Portinari não estava mais aqui quando seus poemas foram editados pela Livraria José Olympio Editora, em 1964, com introdução de Antonio Callado, nota de Manoel Bandeira e um poema de Vinícius de Moraes.
Ao ser entrevistado por seu amigo e biógrafo Antonio Callado, explicou assim o fato de Chagall ter sido o pintor que mais o fascinou quando morou na França: "A poesia sempre me venceu e Chagall é um pintor poético. Quando vejo um tema poético realizado em pintura fico com inveja."
De tanta paixão, acabaram saindo muitos versos. Alguns sobre as coisas, outros sobre ele mesmo:
Sou o fio d'água furtado
Pelas areias. Todas as coisas
Frágeis e pobres
Se parecem comigo.
Mas Portinari não estava mais aqui quando seus poemas foram editados pela Livraria José Olympio Editora, em 1964, com introdução de Antonio Callado, nota de Manoel Bandeira e um poema de Vinícius de Moraes.
Museu Casa de Portinari - Brodowski - São Paulo
Texto: Sylvia Leite
Jornalista - MTB: 335 DRT-SE / Linkedin / Lattes
Todas as outras fotos: Sylvia Leite
Todas as outras fotos: Sylvia Leite
Referências:
Site: Museu Casa de Portinari
Livros:
Retrato de Portinari, de Antonio Callado, editado pela Jorge ZAHAR Editor.
Poemas, de Portinari, editado pela Livraria José Olympio Editora.
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Tilonia
Adoro esse blog!
ResponderExcluirAdorei a matéria! Vontade de ir pra Brodowski!
Obrigada, Maga. Vale a pena conhecer. Eu voltaria.
ExcluirAtravés de seu blog a gente toma intimidade com Porinari e seus lugares, quase como se fôssemos seus vizinhos, contemporâneos. E dá mesmo vontade de ir lá curtir, conferir. Parabéns, Sylvinha!
ResponderExcluirObrigada, Jane! Volte sempre.
ExcluirMais um texto gostoso de se ler, Sylvinha, com sabor de "quero mais". Muito bom conhecer peculiaridades da vida desse artista genial, que sempre valorizou suas origens humildes.
ResponderExcluirObrigada! Pena que você não se identificou. Da próxima vez não esqueça de colocar seu nome ao final da mensagem.
ExcluirQue maravilha de roteiro. Este blog é minha agenda de viagens! Boralá.
ResponderExcluirObrigada, Vi.
ExcluirDamos pouco valor ainda aos nossos artistas. Vamos para museos na Europa e nos Estados Unidos e não pensamos em ir ao interior de Sao Paulo ver a obra de nosso genial Portinari. Que bom Sylvia esse resgate de seu texto.
ResponderExcluirAugusta Leite Campos
É verdade, Gusta. Eu mesma sou um exemplo disso. Já fui a tantos museus no exterior e até a semana passada não conhecia o Museu Casa de Portinari. Mas agora estou redimida rsrrs
ExcluirVi seu texto sobre o Portinari. Belíssimo. Valeu a viagem, não? Menalton
ResponderExcluirObrigada, Menalton Braff. Pelo comentário e, principalmente, pelo carinho com que você e Rô me receberam em Serrana. É claro que valeu. Foi uma viagem maravilhosa.
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