
Segundo inúmeras fontes, o prédio foi erguido no período Neolítico* ou Idade da Pedra Polida, fase da pré-história em que ainda nem se utilizavam os metais, e seus construtores foram provavelmente agricultores. Isso teria ocorrido por volta de 3.200 antes de Cristo - antes, portanto, de Stonehenge, na Inglaterra, e das Pirâmides de Gizé, no Egito - o que lhe confere a condição de monumento mais antigo da terra ou, pelo menos, um dos mais antigos.

Sofisticação na simplicidade
À primeira vista, o templo de Newgrange parece um observatório moderno, com cerca de 80m de diâmetro e 13m de altura, mas um detalhe o diferencia de construções comuns: a cobertura de terra com grama por cima. Caso não houvesse o contorno de pedras aparentes, que delimita sua forma circular, passaria por um monte. Foi isso, aliás, que aconteceu por vários séculos depois que a grama desceu, cobrindo as pedras e escondendo totalmente o edifício, que só foi encontrado em 1699. Sua aparência externa atual é resultado de uma restauração feita na década de 1960 com base no que os arqueólogos acreditam ter sido a forma original.
É por dentro, onde tudo permanece intacto, que a estrutura mais impressiona. Um teto composto apenas de pedra, sem qualquer cimento ou rejunte, sustenta cerca de 200 mil toneladas de outas pedras e a grossa camada de terra gramada. Além de aguentar o peso, esse teto é impermeável, de modo que 5 mil anos depois não existe ali qualquer sinal de vazamento.

É surpreendente, também, a precisão com que o monumento está alinhado em relação ao nascer do sol no dia mais curto do ano e a maneira como a luz penetra pelo corredor, indo até a câmara que está localizada quase vinte metros adiante. Para que tudo isso ocorra, o templo possui uma inclinação (linha branca na parte de cima do desenho) e foi aberta uma claraboia em sua parede frontal (na foto, a abertura quadrada em cima da porta).
Lendas e simbolismo
De acordo com estudos sobre a religiosidade irlandesa na Pré-história, a entrada anual da luz nas entranhas da tumba pode ter representado para aqueles agricultores um encontro do Deus Sol com a Deusa Terra, que resultava na fertilidade da região. Outro significado atribuído ao fenômeno seria a libertação dos mortos, ali enterrados, do inverno eterno.

Brú na Bóinne é cercado de lendas e mitos, tanto da época de sua construção como do período Celta que veio a seguir. Há uma enorme variação de dados, mas entre os que se repetem está a relação dos três sítios com Dagda, o Deus Bom, sua esposa Boann e o filho Boengus, considerados seres sobrenaturais e possuidores de poderes sobre-humanos.
Uma das narrativas afirma que o conjunto arqueológico era um dos Sídhes ou morada dos Tuatha Dé Danann (povos da deusa Danu), que teria sido o quinto grupo de habitantes da Irlanda. Outra lenda, às vezes interligada à primeira, indica que nesse edifício nasceu o herói Cú Chulainn, presente nas lendas épicas irlandesas conhecidas como Ciclo de Ulster e frequentemente comparado ao grego Herácles (Hércules) e ao persa Rostam.
Além de mitos, o local concentra símbolos. Figuras geométricas estão gravadas no interior do edifício
e nas pedras que o rodeiam, inclusive a que protege a porta de entrada. São triângulos, losangos, círculos e espirais. A forma mais comum é um conjunto de três espirais interligadas que, segundo alguns estudiosos, pode representar as três construções que integram o complexo de Brú na Bóinne, mas há também outras versões que dão aos desenhos significados astronômicos ou espirituais .
Especula-se, ainda, sobre as pedras verticais cravadas em volta do edifício - com configuração estrutural semelhante às de Stonehenge e aos moais da Ilha de Páscoa - conhecidas como menirs, que podem ter funções astronômicas ou representar totens.
A observação do solstício
É possível visitar Newgrange durante o mês de dezembro, mas como a procura é grande, foi criada uma espécie de loteria que define por sorteio quais dos inscritos poderão ir ao local no dia do solstício. Lá dentro cabem apenas dez pessoas. Para quem faz a visita em outras ocasiões, há uma simulação com luz artificial que, obviamente, não substitui o espetáculo original e na opinião de alguns até quebra um pouco o clima.
Saber da existência do fenômeno, conhecer as lendas e visitar o local, por dentro e por fora, seja em que época for, já proporciona o que talvez seja o mais importante: entrar em contato com a realidade de um povo de quem pouco sabemos, mas que viveu em comunhão com a natureza e conhecia pelo menos alguns de seus segredos.
* Apenas para esclarecimento, a definição do período Neolítico varia a depender da fonte e, na maioria delas, o ano de 3.200 já corresponde à Idade dos Metais. Mesmo assim, em todos os textos acessíveis sobre Newgrange constam a data de 3.200 e a localização do prédio no período Neolítico, o que não destoa da construção, que é feita essencialmente de pedra.
Newgrange - Vale do Boyne - Condado de Meath - Irlanda
Fotos: Pixabay, divulgação e Sylvia Leite.
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Óbidos
Amei a viagem de hoje, com certeza marcarei como um destino desejado. Gratidão por nos proporcionar grandes aventuras e experiências, amo viajar e conhecer lugares novos... Bjos �� Dione Rodrigues
ResponderExcluirValeu, Dione! Obrigada pelo comentário. Quinta que vem tem mais!
ExcluirMuito legal, Sylvinha! Amo a Irlanda, acho que já tive uma encarnação por lá...!
ResponderExcluirÉ interessante demais, não é? Obrigada pelo comentário. beijos
ExcluirFantástico Silvinha. Cada linha que você tem disponibilizado, certamente um aprendizado para todos.
ResponderExcluirBom saber que você gosta. Obrigada pelo comentário. Beijos.
ExcluirQue demais!
ResponderExcluirÉ demais mesmo!
ExcluirEssa foto, ah essa foto....lindíssima!
ResponderExcluirA cena é maravilhosa, não é mesmo?
ExcluirOi Sylvia, só você mesmo,para me dar a oportunidade de conhecer (saber) a existência de um local tão impressionante. Tudo bem explicado. Parabéns.
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