
Quem ouviu os Beatles, usou roupas indianas ou, de alguma forma, participou do movimento hippie, não consegue ficar indiferente a esse lugar que até hoje proíbe a entrada de carros, mantém o chão de areia e as crianças soltas na rua. Seja na gaita, no balanço, ou por meio de outro veículo qualquer, cada um encontra sua própria maneira se transportar para os tempos telúricos.
'Paz e amor'
A recordação nos leva às décadas de 1960/1970. Respaldados pelos efeitos da maconha, ácidos e plantas alucinógenas, como Beladona e Peiote, jovens do mundo inteiro protestavam contra a violência, rejeitavam o consumismo e pregavam o amor livre. Tudo sob o lema "Paz e amor" e em sintonia com o neurocientista de Havard Timothy Leary, que divulgava os benefícios terapêuticos e espirituais do LSD.
Praias e montanhas eram os locais escolhidos para acampamentos temporários ou moradias. Os que se instalavam permanentemente, assumiam um modo de vida comunitário, influenciado pela cultura oriental, com hábitos que incluíam do uso de incenso à prática da meditação. Os hippies vestiam camisas coloridas, roupas indianas, calças com boca de sino rasgadas naturalmente pelo uso. Inspiravam-se em uma estética psicodélica, que remetia a experiências místicas e transcendentais.
No auge dessa revolução de costumes, um espetáculo musical massificou a cultura hippie no mundo inteiro. "Hair"contava a história da "Tribo" - um grupo de cabeludos que se rebelaram contra a Guerra do Vietnã e faziam campanha contra o alistamento militar. Dois anos depois, o movimento foi coroado pelo festival mais famoso dos tempos modernos, realizado na vila norte-americana de Woodstock.
A aldeia de Arembepe foi o primeiro reduto hippie do Brasil. Quando os 'malucos' começaram a chegar, não havia ninguém por ali. Eles foram erguendo cabanas de palha ou aperfeiçoando palhoças deixadas por pescadores. Viviam em total liberdade, muitas vezes sem roupa, entre o mar, que se curvava em uma enseada, e o rio Capivara, que corria atrás das dunas. Comiam frutas e peixe frito. Tocavam, cantavam, faziam colares, conversavam e transavam longe da repressão política da Ditadura Militar que corria solta nas cidades, especialmente nas capitais.
Ao lado de Goa, na Índia, e Machu Picchu, no Peru, Arembepe alcançou o status de uma das Mecas da Contracultura. Lembram os veteranos que Janis Joplin perambulou por suas praias com uma garrafa de cachaça nas mãos e se encantou com o lugar. O sentimento parece ter sido recíproco. Entre tantos nomes de visitantes famosos, o seu foi escolhido para batizar a vila.

Um museu a céu aberto

Mesmo sem o frescor dos anos 1960/1970, Arembepe consegue preservar pelo menos uma parte de sua filosofia original: paz, amor, vida simples e produtos artesanais. Mas se nos tempos de efervescência a aldeia pertencia apenas aos jovens rebeldes, hoje é considerada um patrimônio cultural da Bahia. Os hippies envelheceram e não vivem mais de frutas e peixes. A aldeia tem bares que vendem cerveja e refrigerante e os artesãos estão organizados em uma associação. Os colares, pulseiras e produtos de couro são vendidos principalmente aos turistas.
Muitos dos que passaram algum dia por alí, reuniram-se para preservar a memória do seu sonho de juventude e, fiéis aos princípios comunitários, escreveram um livro a 400 mãos (e 200 cabeças),
organizado pelo escritor e publicitário Luiz Afonso e pelo produtor cultural e publicitário Sérgio Siqueira, usando, para isso, uma página do Facebook. Também faz parte do movimento de preservação a realização de festas noturnas a céu aberto - os famosos 'luaus' - especialmente no verão.
A aldeia hippie pode não ser mais aquela, mas continua resistindo e já se transformou em um importante museu vivo da contracultura.
Aldeia Hippie de Arembepe - Camaçari - Bahia - Brasil
Texto: Sylvia Leite
Jornalista - MTB: 335 DRT-SE / Linkedin / Lattes
Fotos: Sylvia Leite (atuais)
Obs: A foto de Mick Jagger pertence à Gettyimages e aparece no site Correio 24 horas como imagem liberada para divulgação.
Fotos: Sylvia Leite (atuais)
Obs: A foto de Mick Jagger pertence à Gettyimages e aparece no site Correio 24 horas como imagem liberada para divulgação.
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ResponderExcluirValeu, Nena
ExcluirBoa reportagem e muitas recordações, desse tempo forte de mudanças da juventude. Muitos anos se passaram e vemos que a vida na aldeia continua viva, com aqueles que acreditam,0 e vivem felizes. Parabéns.
ResponderExcluirObrigada, Maria Helena. Adoro saber que você está aqui toda semana.
ExcluirAdorei! Realmente, traz muitas lembranças. Deu saudades de lá
ResponderExcluirEntão aproveite as lembranças. Beijos
ExcluirMassa! :-)
ResponderExcluirValeu, Mercedinha! bjs
ExcluirMuito bom Silvinha.Apesar de não ter vivenciado isso, achei o máximo sua reportagem. Beijo, Aida Carrera
ResponderExcluirValeu, Aida. Beijos
ExcluirParabéns, gostei mesmo!
ResponderExcluirObrigada.Da próxima vez, deixe seu nome rsrsr
ExcluirÓtimo, Sylvinha!!!Lembro de Cleomar...
ResponderExcluirNosso querido Cleomar. Que saudade!
ExcluirMuito legal poder conhecer um pouco mais sobre o assunto. Adorei. Bjs.
ResponderExcluirLívia
Valeu, Lívia, beijos.
ExcluirMais uma vez surpreende, uma história muito boa, obrigado!
ResponderExcluirEu que agradeço por sua presença constante. Beijão!
ExcluirBeleza, Sylvinha! Sempre nos surpreendendo com suas histórias maravilhosas. E essa então que marcou uma época e a juventude rebelde que sonhava com um mundo só de paz e amor. Amei!
ResponderExcluirQue bom, Gustinha. Obrigada pelo comentário.
ExcluirBeleza, Sylvinha! Sempre nos surpreendendo com suas histórias maravilhosas. E essa então que marcou uma época e a juventude rebelde que sonhava com um mundo só de paz e amor. Amei!
ResponderExcluirRespondi acima. Beijos
ExcluirMorei em Salvador de 1977 a 1982. Nao havia mais o movimento Hippie, mas Arembepe era sinonimo de uma Praia maravilhosa e mais "deserta" e eu adorava essa combinacao. Quando ppdia ia desfrutar do lugar. Boas lembranças da Bahia. Realmente é um lugar de memórias. Parabéns Sylvia pela escolha ecletica dos lugares de memória. Aigusta Leite Campos
ResponderExcluirObrigada, Gusta, volte sempre! Beijos
ExcluirCHEGUEI VERÃO 71/72a cidade fervia a ALDEIA SUPER LOTADA , resolvemos ficar do outro lado da vila, depois de DNA Seja no coqueiral la permaneci até 75, e vai no MUNDO Tivemos um rest. PerolaNegra, um dos moradores segue por la e MISSIVAL DOURADO foi no Sucruiu de Arembepe que vi as primeiras NAVES em 72.SALVE SALVE BAHIA a bênção AREMBEPE
ResponderExcluirSalve! Belo depoimento. Experiência viva. Só faltou deixar o nome. Se puder se identificar, vai ser legal. Valeu!
ExcluirViajei com suas palavras para um tempo que nao tive a oportunidade de vivenciar ss ouvir falar. Mas em sua matemat parecia que estava dentro desta Vila que hoje pode nao ter mais nenhum famosos mas continua mágica. "....Cantava Viva à Liberdade...." Engenheiros do Hawaii
ResponderExcluirParabePa!!!!
OlO amiga, aqui e a Cassandra não poderia deixar de opinar sibre sua brilhante matéria
Excluir✍Viajei com suas palavras para um tempo que nao tive a oportunidade de vivenciar ss ouvir falar. Mas em sua matemat parecia que estava dentro desta Vila que hoje pode nao ter mais nenhum famosos mas continua mágica. "....Cantava Viva à Liberdade...." Engenheiros do Hawaii
Parabéns!!!!
Obrigada, Cassandra. Fico feliz que tenha gostado. Toda quinta tem matéria nova. Espero que se torne uma leitora assídua.
ExcluirMuito boa matéria, Sylvia. Viajei no tempo, como muitos dos que a leram. Nunca estive lá mas já guardei Arembepe nas minhas boas lembranças. Parabéns!
ResponderExcluirObrigada, Leila! Toda quinta tem matéria nova. A de hoje é sobre um ritual indiano. Beijos
ExcluirEstive em Arembepe 2002 no verão, gostei D+, visitei rápido a Aldeia, nem imaginei que pessoas tão famosas tinham ido pra lá! Parabéns pela reportagem! Abraços Robson Ventania!
ResponderExcluirÉ legal saber essas coisas, não é? Parece que muda a cara do lugar. Obrigada pelo comentário. Volte sempre.
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