
devoto da padroeira de cidade Nossa Senhora da Saúde. A única vez em que um de seus seguidores atreveu-se a fazê-lo foi repreendido pelo líder. Mas, ironicamente, a cidade que o Rei do Cangaço tentou proteger tornou-se a protagonista de sua derrota final. Foi de lá que saíram os seus executores e foi também lá, em frente à Prefeitura, que foram expostas, pela primeira vez, as cabeças de vários integrantes do bando para deixar claro que o Cangaço tinha sido exterminado.
A batalha final, travada no estado de Sergipe, do outro lado do rio*, talvez tenha sido provocada por aquela desobediência do cangaceiro Gato, ocorrida dois anos antes. Segundo relatos, quando a cidade foi invadida, os que ainda não tinham sido atingidos fugiram, inclusive o delegado e o juiz, mas Chiquinho Rodrigues não pôde fazer o mesmo porque sua mulher, Helenira, estava de resguardo e não podia se locomover. Então ele decidiu enfrentar os cangaceiros apenas com um rifle. Conta-se que a vitória sobre o bando de Gato foi alcançada
graças às rezas da esposa e à sua própria coragem, logo recompensada pelo Exército com a doação de dois rifles.


Além do Cangaço
Mas, embora seja uma pequena cidade, aparentemente perdida no sertão alagoano, Piranhas é muito mais que um cenário histórico do Cangaço. Encanta por sua aparência colonial, com ruas de pedra e casarios coloridos no estilo colonial inglês. Prédios históricos como a torre do relógio, a antiga estação ferroviária, o centro das artes e a Igreja de Santo Antonio levaram a seu tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2002.
Piranhas seduz, também, por sua longa e movimentada história. O local é habitado desde a época colonial e sempre foi um dos principais centros às margens do São Francisco. Inicialmente chamava-se Tapera e o site da Prefeitura Municipal apresenta três versões que podem justificar seu novo batismo. A primeira e mais conhecida é a lenda de um pescador que conseguiu pegar uma enorme piranha e, chegando em casa, percebeu que havia esquecido o cutelo na beira do rio, então falou para o filho: vá ao porto da piranha e traga o meu cutelo.
A segunda vem do viajante Rodrigues Carvalho que esteve na cidade em 1854, segundo o qual os moradores achavam o lugar tão feio que chegavam a compará-lo aos dentes das piranhas. A terceira, e talvez a mais bem aceita, conta que em frente à cidade havia um ponto do rio onde ocorriam muitos naufrágios e os tripulantes das embarcações eram devorados pelas piranhas.
Há ainda uma quarta explicação, segundo alguns a única verdadeira. A palavra Piranhas seria uma corruptela do termo termo "Pira-ai", com o qual os indígenas teriam batizado o peixe e o local, e que significa peixe-tesoura.
A onipresença do Velho Chico

navegaram as embarcações que, no século 17, proporcionaram a troca de mercadorias entre o litoral e o sertão de Alagoas. E foi para interligar seus trechos navegáveis que, no século 19, se construiu a Estrada de Ferro Paulo Afonso, entre Piranhas e Petrolândia, em Pernambuco.
É a força de suas águas que move a Hidrelétrica de Xingó, responsável por ganhos e perdas de semelhantes proporções. É essa usina que fornece 25% da energia do Nordeste. Sua construção provocou a enchente do cânion que atravessa quatro municípios vizinhos e foi transformado em paraíso natural, onde turistas e moradores da região passeiam em lanchas ou catamarãs e tomam banho de rio enquanto observam os paredões.
Misturadas com o rio estão a fé e a crendice. Em suas margens, é comum se avistar altares rústicos com a imagem de São Francisco. É também na beira do rio que se ouve a maioria das lendas da região. A mais conhecida é a do Caboclo d'água, um homem que vive no rio e vira as canoas de quem navega à meia-noite. Mas há ainda muitas outras, como a do Fogo corredor, que tem várias versões Brasil afora, mas em Piranhas é uma espécie de condenação imposta aos compadres que se apaixonam traindo as pessoas com quem são casados. Ao morrerem, os amantes adúlteros transformam-se em duas chamas que movem-se sobre a água do rio, uma correndo em direção à outra.
O Velho Chico é também lugar de banho para turistas e nativos. Em terra firme, é difícil se encontrar um ponto do qual não seja visto ou pressentido pela proximidade. E para completar, o rio ocupa grande parte da paisagem que se contempla de cima, a partir dos mirantes localizados nos dois extremos da cidade: a igreja de Senhor do Bonfim e a pirâmide que marca a passagem do século 19 para o século 20.
* O local da morte de Lampião e seus principais companheiros (a Grota de Angico) será tema de outra matéria. Aguardem.
* O local da morte de Lampião e seus principais companheiros (a Grota de Angico) será tema de outra matéria. Aguardem.
Piranhas - Alagoas - Nordeste - Brasil
Texto: Sylvia Leite
Coloridas - Jaqueline Rodrigues, Lúcia Bellenzani e Sylvia Leite.
P&B - autor desconhecido.
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Sim gostei e conheço a cidade e os causos
ResponderExcluirSó faltou dizer seu nome. Fiquei curiosa. Obrigada pelo comentário. Bom saber que a matéria foi aprovada por quem conhece.
ExcluirParabéns, seus blogs são maravilhosos!
ResponderExcluirObrigada, Gilka!
ExcluirParabéns!!! Adoro seus textos e seu blog!!! 🌻😘
ResponderExcluirObrigada. Fico feliz com isso. Da próxima vez escreva seu nome.
ExcluirMuito bom! E fotos lindas. Parabéns
ResponderExcluirObrigada, Elizete. bjs
ExcluirParabéns Sylvinha! Muito Bom!
ResponderExcluirObrigada, Cynthia, bjs
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito bom! Saudades do tempo que trabalhei nessa linda região!
ResponderExcluirObrigada, Valtinho. Não sabia que tinha trabalhado lá. deve ter sido muito bom.
ExcluirExcelente matéria. Já estive algumas vezes em Piranhas, mas adorei ficar sabendo mais detalhes sobre essa aconchegante cidade. Uma delícia saborear uma cerveja com pitu, vislumbrando o belo Chico.
ResponderExcluirParabens, Sylvinha
Que bom que você gostou, Rose. Volte sempre. Toda quinta tem postagem nova.
ExcluirSylvia que histórias fantásticas dessa cidade Nunca tinha ouvido falar antes. Grata pela matéria. Bj
ResponderExcluirEu que agradeço pela visita e pelo comentário.
ExcluirAcima foi eu que esqueci de assinar o meu comentário Sylvia.
ResponderExcluirAh, legal. Fico morrendo de curiosidade quando as pessoas não assinam rsrsr
ExcluirVou levar vc na casa de Celso Rodrigues, filho de seu Chiquinho Rodrigues, pra vc conhecer os diversos causos dessa cidade. Ele é um querido amigo da nossa família.
ResponderExcluirOba! Vou cobrar, heim!!! Enquanto estava escrevendo a matéria, conversei com Jaqueline Rodrigues. Ela me passou informações interessantes e até me convidou para conhecer o sobrado vermelho, o casarão dos Rodrigues. Mas quanto mais contatos, melhor! Obrigada.
ExcluirDemais, Sylvinha! Adorei!
ResponderExcluirQue bom! Conhece o lugar?
ExcluirQue ótimo! Fui com o BLOG VIAGENS PELO BRASIL a Piranhas e amei!Gosteida sua perspectivs detalhando aspe tos históricos. Parabéns!
ResponderExcluirLegal, Karina. Toda quinta tem postagem nova aqui. Fique ligada. E obrigada pelo comentário.
ExcluirSó hoje parei para ler. Gostei muito. Já conhecia a história mas você conseguiu colocar coisas que não tinha observado . Parabéns.
ResponderExcluirQue bom! Conseguir acrescentar alguma coisa é uma grande satisfação. Obrigada pela assiduidade. beijo
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