No local onde ocorreram os combates, um museu a céu aberto expõe os contrastes que definiram o começo, o meio e o fim da curta história do povoado. A transparência dos painéis nos faz suplantar a objetividade das cenas e enxergar, através delas, a aridez do terreno e a crueza dos fatos.
Conselheiro era filho de um pequeno proprietário de terras e foi criado em convívio com a Igreja Católica, por isso conseguiu ser alfabetizado e falava Latim. Trabalhou como professor, comerciante e escrivão, mas sua incursão pelo Brasil oficial termina aí. Ainda jovem saiu em peregrinação, assumindo um comportamento que desafiava simultaneamente a Igreja Católica e o Governo Republicano.
Na vida religiosa, ignorou a hierarquia e as formalidades, passando a agir por conta própria. Enquanto os sacerdotes da época rezavam missa em Latim e de costas para os fiéis, Conselheiro misturava-se ao povo, pregando em Português, com linguagem popular e se fazendo entender por todos. Seus seguidores eram lavradores, ex-escravos, ex-prostitutas e povos indígenas.
Antes de fundar a cidadela de Belo Monte, ele peregrinou quase vinte anos pelo sertão nordestino, construindo igrejas, cavando açudes e oferecendo àquela gente sofrida a possibilidade de viver livre em algum pedaço de terra.
Ao chegar à região de Canudos, em 1893, se estabeleceu com seu povo à margem do Vaza-Barris e formou uma comunidade que chegou a reunir 5 mil e 200 casebres e aproximadamente 25 mil moradores e o sonho tornou-se realidade pelo curto período de três anos.
Belo Monte
Ao chegar à região de Canudos, em 1893, se estabeleceu com seu povo à margem do Vaza-Barris e formou uma comunidade que chegou a reunir 5 mil e 200 casebres e aproximadamente 25 mil moradores e o sonho tornou-se realidade pelo curto período de três anos.

Uma desavença entre Conselheiro e um comerciante da região teria precipitado o primeiro ataque do governo, que esperava vencer facilmente. Estava enganado. Seriam necessárias quatro expedições militares, ao longo de um ano, para que o Arraial de Canudos fosse finalmente exterminado e seus moradores friamente massacrados.
Depois da destruição, em 1897, a vila foi lentamente reconstruída. Na década de 1960, o Governo Federal mandou represar o Vaza-Barris e Canudos submergiu sob o Açude de Cocorobó. A poucos quilômetros dali foi erguida outra cidade, que não guarda qualquer semelhança com a Canudos original, mas abriga o Memorial Antônio Conselheiro, que possui informações complementares às do museu a céu aberto, batizado como Parque Estadual de Canudos.

Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do tempo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíam seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados. (Euclides da Cunha)
AVISO: Você acaba de ler a matéria Canudos 1. Leia também Canudos 2 que conta a história da arara-azul-de-lear e da Reserva Biológica de Canudos.
Canudos - Euclides da Cunha - Raso da Catarina - Bahia - Brasil
Texto: Sylvia Leite
Os Sertões, de Euclides da Cunha - clique aqui para baixar o livro
A Guerra do Fim do Mundo, de Mário Vargas Llosa
Outras referências:
Parque Estadual de Canudos
Memorial Antônio Conselheiro
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Muito bom, Sylvinha!!! Continue resgatando e recontando essas histórias, revolvendo as nossas raízes!
ResponderExcluirObrigada, Soninha, continuarei. Toda quinta tem história nova. beijos
ExcluirFico tão contente qdo (ainda) sou surpreendida logo cedo por estes textos ! Bjos
ExcluirQue bom, Mercedinha! Toda quinta tem texto novo. Não perca! Beijos
ExcluirFantástico, simplesmente fantástico, relembrei quando passei por lá indo para Cocorobo.
ResponderExcluirObrigada, Marcelo. Bom ouvir isso de quem conhece. Prova de que estou conseguindo captar a realidade dos lugares rsrs. Esta é uma preocupação constante.
ExcluirSilvinha que maravilha podermos conhecer essas histórias através dos seus olhos. Todas as vezes que leio seus textos tenho vontade de ir ao local. Mais uma vez você está de parabéns. Aida Carrera
ResponderExcluirObrigada, Aida. Espero que vá a todos esses lugares. Vale a pena. Beijos.
ExcluirParabéns pelo Texto Sylvia! Seu texto oportuniza uma reflexão sobre a força do estado contra os movimentos sociais. Nem mesmo o represamento da água na tentativa de apagar os vestígios da história e do massacre que viveu Canudos, foi suficiente para apagar com essa triste página de nossa história. Isso faz nos voltar ao que estamos vivendo hoje, com a perseguição a Lula, a Dilma e aos partidos comprometidos com as forças populares! O que os DONOS DO PODER no futuro vão tentar fazer para apagar essa outra página negra de nossa história?
ResponderExcluirObrigada, Nairson. É bom saber que meus textos estão resgatando memórias, despertando desejos e provocando reflexões. Era isso mesmo que eu pretendia e parece que deu certo. Pelo menos até agora. Quinta-feira tem mais. Não esqueça! Beijos
ExcluirRealmente muy interesante! No conocía esa historia tan rica y triste más aún genera la esperanza en nuestros pueblos. Gracias!!! Abrazo desde Uruguay
ResponderExcluirMuchas gracias, Liliana. Que vuelvas aqui todos los jueves y que desfrute!
ExcluirComo sempre um texto claro e oportuno resgatando um pedaço da nossa história. Mais uma vez parabéns
ResponderExcluirObrigada, Neilton, por sempre estar por aqui. Grande abraço! Quinta tem mais.
ExcluirBelo texto, Sylvia, conciso e informativo. E ainda teve o bom gosto de citar um grande mestre do nosso idioma, Euclydes da Cunha.
ResponderExcluirCarlos.
Obrigada, Carlos. Volte sempre. Beijos.
ExcluirParabéns, Sylvia, pelo texto! Obrigada! Quero muito ir lá.
ResponderExcluirNão sei de quem é o comentário, pena, veio sem assinatura. Obrigada e se puder se identifique. E faça mesmo a viagem. Vale a pena.
ExcluirSensacional, Sylvia! Foi uma lembrança da nossa história. Com um texto muito claro, fica mais fácil de visualizar as cenas históricas
ResponderExcluirLegal, Eli, obrigada. Volte sempre. Todas as quintas tem postagem nova. Beijos.
ExcluirBelíssimo texto, Sylvia. Seu blog está maravilhoso.
ResponderExcluirObrigada, Vi. Que bom que está gostando. Toda quinta tem conteúdo novo. Volte sempre! E se puder, ajude a divulgar. Beijos
ExcluirPreciso conhecer Canudos, memorial da resistência à exploração do homem pelo homem.
ResponderExcluirBela descrição para tempos difíceis como estamos atravessando.
É um lugar impressionante. Passei anos querendo ir e finalmente aconteceu. Vale a pena!
ExcluirParabéns Sylvinha!!! Estou aguardando ansiosa pelos próximos textos.
ResponderExcluirMarta Carrera
Obrigada, Marta. Feliz por você estar aqui todas as quintas. Beijos.
ExcluirExcluir
Este lugar eu ja fui e gostei imensamente. Ja havia lido A Guerra do Fim do Mundo e reli para rememorar.Comprei os sertoes para ler de quem esteve la. Mas Canudos tem mais história. Para os observadores de aves temos a linda e epica história das "Araras Azuis de Lear" que somente sao encontradas la e num resgate da vida foram salvas da extincao. Augusta Leite.
ResponderExcluirA história das "Araras Azuis de Lear" está na minha lista, Gusta, e espero contar com sua ajuda para fazer a matéria. Beijos
ExcluirUma parte da história brasileira! Gratidão
ResponderExcluirEu que agradeço, Eliana, beijão.
ExcluirLi os Sertões de Euclides da Cunha e ao visitar o Raso da Catarina muitas passagens dos 'Sertões' me vinham como um filme na cabeça. Obrigada por sua postagem, pois ao ler, revivi aquele momento. Bjs
ResponderExcluirLugares de Memória14 de maio de 2018 21:10
ExcluirFico muito feliz quando as postagens deste blog despertam desejos ou resgatam memórias. Essa é a ideia. Que bom que está dando certo. Obrigada pelo retorno. Beijo.
Adoro ler o seu blog. Aqui sinto que adquiro mais conhecimento O post sobre Canudos, memoria de um sonho, por exemplo, está incrível. Obrigada por isso.
ResponderExcluirEu que agradeço, Normeide. Bom saber que você gosta das matérias. Volte sempre!
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